O que a experiência do Governo da Suécia, que optou por não adotar ao isolamento social obrigatório, ensina aos brasileiros

Por Felipe de Holanda (DECON/UFMA)

Esta semana, Michael Ryan, diretor executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS), surpreendeu o mundo ao recomendar a Suécia como exemplo bem sucedido de nação que vem combatendo a pandemia do COVID-19, sem adotar medidas oficiais de distanciamento social. O suposto aval da OMS à estratégia da Suécia, vem servindo como base para sustentar campanha desenvolvida pela militância bolsonarista e por alguns segmentos empresariais, no sentido de combater e minar o isolamento social no Brasil. Na argumentação subsequente, com base nos últimos dados sobre a pandemia em escala mundial, do dia 16 de maio (https://covid19.who.int/region/euro/country/dk ), provo que, exatamente por não ter adotado as medidas de isolamento social, a Suécia registra mais de 10 vezes o número proporcional de mortos que seus vizinhos, que adotaram as restrições, deverá colher maior queda da atividade econômica e demorará mais tempo para sua economia se recuperar. Vamos aos fatos:

A Suécia se destaca por ser um país de alto desenvolvimento, da Europa Ocidental, que optou por não aplicar medidas de isolamento social. Resultado: tendo uma população de 10,2 milhões de habitantes; 30 mil casos confirmados; 3,6 mil mortes; 117 mortes nas últimas 24 horas. Vamos, agora, comparar tais indicadores com os correspondentes (na mesma ordem), dos demais grandes países escandinavos: Noruega (5,4 MM; 8,2 mil; 232, zero); Finlândia (5,5 MM; 6,3 mil; 293; 6). Comparemos também com a vizinha Dinamarca: (5,8 MM; 10,8 mil, 537; zero).

A Suécia não aplicou medidas mandatórias de isolamento social e obteve 20 vezes mais mortes que a Noruega (10 vezes mais, se as mortes são ponderadas pela população), pais limítrofe e de mesmo nível socioeconômico. Ontem (15/05), foram contabilizados, na Suécia, 127 mortos, enquanto em todos os demais países as novas mortes convergiram para zero.

A coisa poderia ter sido muito pior na Suécia, não fosse a adesão espontânea da população de Estocolmo, Gottemburgo, e outras cidades maiores, ao isolamento social, mesmo sem que o mesmo fosse obrigatório. É que lá, eles são ricos e moram em casas amplas, pequenas famílias, sendo que a maior parte da população tem vínculo empregatício e/ou reservas financeiras.

Não é infelizmente, o caso das grandes cidades do Brasil, que têm amplas faixas da população, em situação informal ou precarizada, morando em aglomerados subnormais (favelas & cortiços), com carência de saneamento básico e apinhamento de casas, e de gente dentro das casas.

Na Suécia, a queda do PIB este ano está projetada por instituições financeiras, entre 5 e 10%, mais do que nos países vizinhos. É que, mesmo sem isolamento social, os consumidores desapareceram dos shoppings, dos restaurantes, bares cafés, aeroportos e trens. E, devido ao ainda elevado número de casos e mortos, a economia sueca seguirá sendo machucada pela COVID-19 e, pior, impondo a continuidade do isolamento e restrições as viagens nos países vizinhos, que já zeraram as mortes de covid-19.

Quando a OMS reconheceu que a Suécia É um modelo para os países que NÃO aplicaram regras governamentais de isolamento social, quis dizer que, se o jogo político do pais levou a esta decisão irracional (não adotar o isolamento social), o melhor é que seja com uma população rica e consciente que, a despeito da não intervenção governamental, é capaz de se isolar e proteger.

No Brasil, a maior parte da população não consegue se isolar e se proteger adequadamente. Compreende-se que, por desinformação sobre a situação da Suécia, muita gente, esteja criticando o isolamento social e pressionando os governadores, prefeitos e a Justiça, para, diante do agravamento das dificuldades da economia, flexibilizar as medidas de isolamento social, no momento errado, ou seja, quando estamos entrando no olho do furacão da crise, e diante da ainda inexistente capacidade de testar em massa e isolar infectados ao longo, que, novamente, a experiência internacional aponta como o único caminho seguro para sair do lockdown.

Agora, o que pensar quando uma pessoa informada como o Deputado Federal Osmar Terra, médico, ex-Prefeito no Rio Grande do Sul e ex-Ministro de Desenvolvimento Social e Agrário, no Governo Temer, além de cotado para o Ministério da Saúde, afirma, com base na experiência sueca, que foi a decisão das cidades brasileiras de adotar lockdowns e outras medidas de isolamento social que levou à escalada nas taxas de infectados e mortos.

Constrói, de forma consciente, o deputado terraplanista,  uma mal intencionada falácia, através da clássica inversão de causa e efeitos (as restrições foram adotadas porque as mortes escalaram e não o contrário), com  objetivos de lançar a população contra os governadores e prefeitos, e a Justiça, em vários âmbitos, que supostamente adotam medidas cruéis, contra a sobrevivência do povo mais pobre e as menores empresas. Uma mentira criminosa, destinada a amplificar o número de infectados e mortos e disseminar o caos e, nessa vereda, as cobranças pela ruptura da democracia brasileira. Uma mentira que não engana eu e você, e que será julgada e  punida, senão pela Justiça (Humana e Divina), pelas urnas e pela vida.

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