As lições da demissão de Moro (“Deus é brasileiro?”)

Felipe de Holanda (DECON/UFMA)

O Presidente Bolsonaro, enfim cometeu o erro primário, emocional, que vai acelerar sua derrocada. Conforme já vínhamos batendo na tecla há meses, a máquina de moer, judicial e política, andando, convenientemente a passos de cágado, durante todo um ano de desgoverno, começou a acelerar inexoravelmente, apertando o colarinho do mandatário-geral da nação, retirando-lhe o fôlego, e tolhendo-lhe, por fim, a capacidade de reação. Até que ele resolveu fazer a intervenção cirúrgica, capaz de bloquear o cerco crescente da justiça a si (e ele fez por onde!) e aos seus filhos (01, o Senador Flávio Willy Wonka Bolsonaro; e 02, o Vereador Fake Carlos News Bolsonaro). E ao fazer isto, rompeu o delicado equilíbrio que mantinha Sérgio Moro no Governo.

A máquina de moer da Justiça, na verdade, já ganhava impulso, ainda antes da chegada da Pandemia, quando o Necropresidente, com dificuldades de explicar  o tal do “pibinho brochante”, de 2019, e diante da perspectiva de desventuras em série, no ano legislativo de 2020, começou a disparar declarações inflamadas e a participar de manifestações de rua, contra os demais poderes, os governadores, os prefeitos, a Rede Globo. Ao frequentar atos de rua contra os demais poderes e os governadores, quando devia estar pregando o isolamento das pessoas não essenciais, adicionou ele gasolina enriquecida com nitroglicerina, à fogueira da crise política.

Quanto a Moro, alista-se agora, na planície, como o principal concorrente da ala direita, para o Planalto, em 2022, ultrapassando, por ora, o melífluo (e ambíguo) Dória. O problema de Moro será explicar como foi que o Ministério da Justiça, que ele dirigiu (quase) de porteira fechada, durante 16 meses, ignorou as violações dos direitos humanos, as agressões ambientais, assim como os desmantelos financeiros, cibernéticos, ambientais e gramaticais do clã presidencial. Ah sim, e é importante repetir a pergunta, muito bem colocada (embora minimizando a importância do Crime), pelo ex-capitão reformado por indisciplina:  “por que o Ministro Moro não esclareceu e puniu os culpados pela morte de Marielle Franco!?”

Possivelmente, ainda antes da renúncia de Bolsonaro, Guedes vai sair. Aliás, no vexatório pronunciamento às 17:00hs do dia da demissão de Moro, lá estava o Ministro da Economia de máscara (o único, quando todos deviam estar de.), aparentemente pronto para pegar o Uber e deixar o Planalto (oxalá encontrasse os sapatos a tempo). Com a saída de Guedes, provavelmente Tarcísio Freitas deverá assumir maiores responsabilidades, assim como o Rogério Maranho, podendo talvez exercer importante influência no Governo Mourão, na articulação entre investimentos públicos e privados em infraestrutura. Disso, o Brasil precisa.

Sim, são crescentes as probabilidades de uma renúncia de Bolsonaro, à medida que seu coeficiente de apoio popular se reduza à metade, ajustando-se aos impactos do desembarque de Sérgio Moro de seu deprimente governo.  Ainda mais, diante das novas e contundentes provas de prevaricação produzidas por ele mesmo, as quais foram diligentemente documentadas pelo ex-Juiz e novíssimo candidato ao Planalto, Sérgio Moro.

Removido o atual problema sanitário que ocupa o Palácio do Alvorada, imagina-se que haverá uma certa pacificação inicial, no Governo Mourão. Acredita-se até que, diante da gravidade da situação atual, as esquerdas vão voltar a ser ouvidas seriamente no debate, o que é muito positivo, pois são elas, as esquerdas, as organizações dentro do espectro partidário que conhecem melhor sobre proteção social, e sobre capilarizacao de recursos, as necessidades do momento. Com controle social e orçamento específico, nesta conjuntura extraordinária, será sempre melhor errar para mais, do que errar para menos.

Precisamos estudar com atenção o que está ocorrendo mundo afora. O desafio do financiamento da ampliação de dívida pública, que decorrerá das ações de combate e mitigação aos efeitos do COVID-19, e depois, do investimento massivo na ampliação e adaptação dos sistemas públicos de saúde, constitui-se em um problema global. No Reino Unido, o Governo acrescentou dois instrumentos extraordinários, ao painel de política econômica ativado para enfrentar a profunda recessão criada pela passagem da pandemia: 1. Possibilidade do BOE (BC da Inglaterra), financiar diretamente gastos do Tesouro; 2. Possibilidade da realização de operações de compra massiva de títulos do Tesouro em mercado, pelo BOE. O 1º, faz mais sentido durante o período de deflação, como medida de emergência para evitar desabastecimento, desemprego em massa  e violenta mortalidade empresarial. O 2º, também conhecido como Quantitative Easing, coloca uma opção interessante de financiamento para a expansão do endividamento público, tendo como custo a remuneração das reservas bancárias, mas com o benefício de diluir a dívida pública, com uma inflação apenas moderada, se a taxa de juros nominal que remunera estes títulos for menor do que a taxa de crescimento combinado do PIB real mais a inflação, por um tempo relativamente longo, conforme vimos nos EUA e na Zona do EURO, no período pós crise de 2008.

O debate maduro deve focar SE e EM QUE EXTENSÃO, cada um dos dois instrumentos poderá ser aplicado no Brasil. Aqui, o impacto da COVID-19 deverá ser bem mais desestruturante do que na Inglaterra. E, sim! Deus é brasileiro (está fartamente evidenciado), e inventou a maior parte das catástrofes (idem). Por outro lado, Ele, que tem adicionalmente mais de 200 nacionalidades, também inventou a divina capacidade humana, de sentir compaixão, de cooperar fraternalmente e de criar soluções.

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