Forças Armadas impõem o número 2 na Saúde e esvaziam Guedes, com mega plano de obras públicas

Por Felipe de Holanda (DECON/UFMA)

As Forças Armadas impuseram o número 2 no Ministério da Saúde, o General e agora Secretário-Geral Eduardo Pazzuelo, visto unanimemente dentro das Forças Armadas, como o alta-patente que mais entende de logística no Brasil, segundo o noticiário. A indicação mostra que continua o processo de militarização do Governo  de Jair Bolsonaro, aliás, iniciado bem antes da crise do  COVID-19.

A nomeação de Pazzuelo mostra, de forma precoce, que o titular do Ministério, Nelson Teich, sem força nem para estruturar a própria equipe, limitado pela falta de experiência em gestão de saúde pública, estás lá, mais como canal de comunicação do Governo Federal com o sistema de saúde privado, do que para efetivamente comandar a gestão nacional do combate à pandemia.

Bolsonaro, aparentemente, saiu vitorioso, na queda-de-braço com Mandetta, o médico e deputado mato-grossense, que por fim foi sacado do Governo. Porém, menos de uma semana depois, após desobedecer uma proibição velada das Forças Armadas, de não mais participar de atos de rua contra os demais poderes da União, colheu o Capitão, como resultado, a ampliação de seu isolamento político. O movimento hipócrita, em direção ao centrão do notório Roberto Jefferson, de resto nem sancionado por sua escassa base parlamentar, é revelador do grau de necrosamento político do Presidente.

Em política, não existe vácuo de poder. A crise política, que vinha de antes, foi aprofundada, pela decisão tática de Bolsonaro de tentar capturar sozinho os dividendos eleitorais de ser o único a ter lutado contra o isolamento social, enquanto os governadores, prefeitos, Congresso e Judiciário ficaram com o ônus de sustentar o trancamento. Nesta rota de confronto, ditada por seu DNA político, o Presidente necropopulista, de todos os brasileiros, foi assumindo apostas cada vez mais arriscadas.

Bolsonaro previu que, por ter iniciado relativamente cedo as medidas de isolamento social, o Brasil seria um caso médio e breve da pandemia, seguido um período prolongado de prostração econômica. Com o passar dos meses, e o abrandamento do luto pelos milhares mortos, restaria a dura realidade do desemprego massivo, degradação da infraestrutura, empobrecimento do país, que seria utilizada por Bolsonaro como a prova de que estava certo. Neste cenário otimista, de impactos apenas brandos da COVID-19 que, paradoxalmente, contribuiu enormemente para impedir, Bolsonaro, provavelmente viu-se, na fantasia delirante, coberto de louros, nomeado Consul da República, marchando em seu cavalo Incitatus, pela Esplanada e até o Senado, para receber, sem desmontar, a Túnica Imperial.

Doce devaneio, que vai se estilhaçando sob a dura realidade, na medida em que o Brasil se converte velozmente em um dos hotspots mundiais da COVID-19, com o agravamento de sua dispersão descontrolada em várias periferias metropolitanas, e também sua interiorização, em vários Estados, como já se confirmou no Maranhão, por exemplo.

O poder de governar, de fato, foi capturado pelas Forças Armadas, visível através do fortalecimento do General Braga Netto, chefe da Casa Civil, que aproveitou o breve e dúbio pronunciamento do tutelado  ministro Nelson Teich, da Saúde, para expor um plano “Marshall”, de economia de Guerra, para o Brasil. Sinaliza o Plano Pró-Brasil, ainda a ser detalhado, a imediata elaboração e aplicação de políticas keynesianas clássicas, para situações de depressão, e se assemelha muito mais ao New Deal, de Franklin Roosevelt (presidente dos EUA, entre entre1933 e 1945). São orçados, incialmente R$ 30 bilhões, para a retomada de 70 obras de infraestrutura (além de ações ainda não especificadas em “desenvolvimento produtivo, capital humano e inovação e tecnologia”), que buscam gerar impactos imediatos, na geração de emprego e na capilarização de poder de compra, pelo país. Precisou de uma pandemia global, para o Governo brasileiro, desde 2015, começar a mover-se na direção correta para enfrentar a recessão.

Neste ponto chegamos ao segundo maior perdedor  neste movimento de fortalecimento das Forças Armadas – o Ministro Paulo Guedes, cuja lógica de intervenção na crise continua travando a capilarização de recursos, tão urgente, para apoiar os trabalhadores informais, as micro e pequenas e até as médias empresas. O fracasso de Guedes em desenhar e implantar políticas para amparar tempestivamente as vítimas econômicas da Pandemia selou sua perda de prestígio e comando dentro do Governo. Sua saída do cargo é iminente. .

No centro palco, o novo Poder Moderador, que ora governa de fato, o Brasil, as Forças Armadas, que  agora retiram dos velhos alfarrábios da Escola Superior de Guerra, a Doutrina de Segurança Nacional, para colocar em prática políticas e programas da economia keynesiana para depressão, velha de guerra. Uma tendência parece ter ficado nítida: nas próximas semanas, avançará mais a militarização do Governo e da vida urbana no Brasil.

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