Por Fernando Belfort

Meus amigos. Quando Pedro Leonel Pinto de Carvalho completou setenta anos dediquei-lhe um artigo e disse de inicio; Quero homenagear não o jurista, o professor, o advogado brilhante, o articulista político de ontem dos jornais e da TV. Não. Não quero. Vou falar com muita honra sobre o amigo. E, quanto é difícil definir quem é amigo. Mas, tentarei, pois assim o tenho.

​​Mas amigos também morrem. Amigo é quem te dá um pedacinho do chão, quando é de terra firme que tu precisas, ou um pedacinho do céu, se é o sonho que te faz falta. Mas Pedro faleceu. Não mais pode nos dar um pedacinho do chão, mas deve estar a aguardar-nos reservando um pedacinho do céu.

​​E o nosso poeta maior disse sobre o amigo. “Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar”.

​​Pedro Leonel nasceu em Viana no dia 06 de março de 1937, filho de um advogado e de uma professora. Ambos tão dignos como ele. Disse-me certa vez, quando menino ainda, sua maior alegria não era receber um brinquedo quando o pai regressava da Capital, mas quando lhe trazia um livro. Que belo exemplo este que me legou. E foi através dos livros que se fez respeitado.

​​Quando falamos adeus a um amigo, parte de nós se vai com ele. “O tempo passa e a saudade fica. Fontes de lágrimas renascem…

​​A ti amigo faço-as minhas as palavras do poeta português Daniel Arruda quando previa a morte se aproximar. “Quem me faria acreditar que a meninice e a juventude me fugissem! Quem me faria acreditar que a velhice chegaria! Ninguém o faria. Mas hoje me soam as benditas palavras dos antigos: “Este mundo não é nosso e a vida são dois dias.” Tomou assento à janela e viu as flores do jardim da sua vida terrena despetalando-se, lentamente, enquanto perdiam a expressividade das suas cores. As pétalas caídas, levadas pelo vento, plainavam alegres até se perderem no horizonte e, em busca do infinito, cantavam: “Rainha cheia de brilhos,/ Mãe deste teu filho amigo,/Que me livra dos sarilhos,/Da desgraça e do perigo,/Depois de eu criar meus filhos/ Estou pronto a ir contigo!”

​​Quando da ultima vez que te visitei no leito hospitalar e nem uma palavra me dirigistes vi em teus olhos que tu sentias que a vida se congelava que a tua alma iria mergulhar no hiato que se fazia entre tua matéria e teu corpo.

​​“À pressa, pegou o comboio que o levaria em sua longa e derradeira viagem. Seguiu sem se despedir, sem tempo para um último abraço, sem dizer adeus. Estava lá, no horário marcado”!

​​Pedro Leonel Pinto de Carvalho sempre soubestes imprimir um tom de dignidade onde se distingue o humor, o sarcasmo, a crítica, o conselho, a ponderação, a ousadia e a coragem.. Levastes a saudade da tua última aldeia, mas teu derradeiro olhar foi para a tua Ilha querida de São Luís antes de partir para os braços de Deus, teu pai muito amado. Perpetuaste-te na descendência de teus filhos, teus netos, teus bisnetos e no amor de mulher amada Marilene Carvalho. Paz a tua alma. Ate logo, ate breve, ate sempre.

1 thought on “Adeus, Pedro Leonel

  1. Um dos maiores juristas deste País.
    Justa homenagem.Estudou no Colégio Maristas com meu pai!O Maranhão perdeu umas das últimas reservas da moralidade e do conhecimento.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *