Por Gastão Vieira

Esta semana o coronavírus levou mais um grande homem. Morreu Sálvio Dino, meu amigo desde o início da década de 1970. Lembro quando o conheci, numa sala do prédio da Casa do Maranhão, onde funcionava o Tesouro Estadual.

Eu muito jovem, recém-concursado no Estado, fui acolhido, como ele, pelo Prof. Pedro Neiva de Santana, na Secretaria da Fazenda. Ele, inconformado com a injustiça da sua cassação, continuava o mesmo, sem medos e disposto a reparar a injustiça de que tinha sido vítima.

Eu ressabiado, afinal eram tempos sombrios, não tinha certeza do futuro. Sálvio me ouvia e contava sua vida. Foram anos de convivência e eu aprendi muito com sua coragem e retidão de pensamento. Ouvia histórias de sua terra, Grajaú, de Imperatriz e dos companheiros das lutas políticas, principalmente na Região do Tocantina.

Sálvio também tinha o outro lado, era um romântico, poeta, um homem de letras, membro da Academia Maranhense de Letras e da Academia Imperatrizense de Letras. Era um homem de grandes projetos e inspirador. E foi assim, naquele pequeno lugar da Secretaria da fazenda, que eu fui formando o meu caráter baseado no aprendizado que eu tinha com Sálvio Dino.

Anos depois, a vida nos juntou num fato extremamente doloroso para nós dois. A sua filha mais velha e a minha sobrinha mais velha contraíram leucemia e ambas foram se tratar no Rio de Janeiro. Eu estava lá e ele também e ali, durante muito, muito tempo, nós nos confortamos pela ela dor que viria com a perda das duas.

Retornando ao Maranhão, continuamos amigos até que eu decidi ir embora para o Rio de Janeiro, mas à distância continuei acompanhando o seu trabalho. Na minha volta ao Maranhão, seu filho já era candidato a governador e ele sentia um imenso orgulho em saber aonde o seu filho poderia chegar. Ultimamente sonhava com a possibilidade de vê-lo na presidência da República.

Já doente falei com ele pelo telefone e perguntei como ele estava. Ele me respondeu: “o galo velho está aqui encolhido no galinheiro…” E em seguida, começou a me falar de seus novos projetos. Sálvio Dino era assim, um homem incansável, sempre em busca dos seus ideais e de seus sonhos.

Perdemos um grande maranhense, um homem que nunca se curvou ao poder, nem as conveniências, nem aos interesses que não eram republicanos. Vá em paz meu amigo, sua missão por aqui foi cumprida e seus ensinamentos ficarão como lições de vida para todos nós.

*Deputado Federal PROS/MA e ex-Ministro do Turismo

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