Comunicação do governo Flávio Dino é do mesmo jeitinho de Roseana Sarney, afirma professor da UFMA

Por Márcio Carneiro

Por que será que o governo estadual que tem tantos acertos em saúde, educação, direitos humanos, ciência e tecnologia e cultura erra tanto na Comunicação? O atual problema da água em São Luís é emblemático.

Uma operação técnica de grande porte que deveria ter sido tratada e comunicada como tal foi transformada em grande oportunidade para alavancar a imagem do Governo associando-a a uma obra importante que resolveria um problema antigo. Certo?

Errado.

Se a ideia aparentemente é boa, o timing de execução foi desastroso. Até um encanador iniciante sabe que uma tubulação nova ao receber uma pressão grande pode apresentar falhas e é até normal que isso aconteça, já que ela não tinha sido testada antes em condições reais. Não é comum, mas é possível. Entretanto os marqueteiros e gênios da Comunicação do Governo não consideram cenários, contextos e variáveis.

O negócio é botar a boca no trombone o mais rápido possível e gastar toda a mídia que puder para poder mandar a fatura no final do mês. Só que aí deu no que deu.

O sucesso foi provisório e o que deveria ter sido inclusive comunicado como uma possibilidade, ou seja, do sistema apresentar instabilidades iniciais até sua completa estabilização, foi substituído por um anúncio de “término de obra com antecedência”. Resumindo: a estratégia de comunicação ufanista e apressada virou um tiro no pé e colocou o Governo na delicada situação de ter que se explicar e assumir um problema técnico que deveria estar na lista de possiblidades (e comunicado como tal) mas foi totalmente omitido. O início da fase de comunicação “resolvemos e somos os tais” podia ter esperado mais alguns dias considerando a chance real de eventualidades. Como falei timing errado.

Antes que digam, não é um fato isolado. Basta olhar a maioria dos comerciais do Governo na TV, a mídia mais cara que existe. Com o que eles se parecem? Material de programa político. Imagens lindas, com drones, apresentadores e jingle animados, obra, obra, obra. Produção de primeira e, com certeza, custo lá no alto. Mas não é comunicação pública? Com o dinheiro do cidadão? Não deveria ser utilizada para campanhas educativas, de trânsito, de coleta de lixo, de prevenção de saúde, de cidadania? Essas existem, mas basta comparar com a quantidade de PPA (programa político antecipado) que é feito para ver que a desproporção é grande. O mais engraçado é que na Comunicação o governo Flávio Dino, com esse tipo de estratégia, fica muito igual a quem? Ao da sua antecessora, que fazia do mesmo jeitinho, com o agravante de pagar a conta direcionando a grande fatia do bolo para o próprio território. Mesmo assim tá errado.

Sei que os defensores de plantão vão dizer que não é assim ou que não tem jeito porque é uma luta contra o atraso. Em outras palavras que a agenda melhor justifica qualquer coisa. Disso eu discordo. Concordo que a luta deva ser travada mas não utilizando a forma de operar de quem você quer combater, gerando uma inconveniente e camuflada semelhança que não faz bem a nenhum projeto democrático.

Mas então porque será que são tão parecidos? Talvez porque a indústria da Comunicação movimente quantias enormes sendo muito conveniente para alguns de seus operadores que essa estratégia da mídia massiva e com formato de campanha tenha que ser o padrão e que, para tanto, um exército de assessores, consultores, entendidos e palpiteiros sem noção estejam sempre a soprar no ouvido do governador garantindo que esse é o único jeito de vencer. Não é. Talvez o único jeito de garantir boas somas de lucros, faturas altas e manutenção de empregos, cargos e contratos, mas não a melhor para quem acabou de dar ao adversário um excelente material para ser explorado no ano que vem.

Esse governo já encontrou um jeito popular e democrático de enfrentar muitas questões na sua gestão, falta achar esse caminho na Comunicação Pública e um bom começo é perguntar quem ganha dinheiro com tudo isso? A questão não é apenas construir a imagem de um governo popular, é agir de acordo. Se em outras áreas já acontece, na Comunicação também deveria ser um governo que age diferente. Ganhar a eleição só com a imagem é enganar as pessoas e construir uma fachada bonita diante de uma verdade nem tanto, que se sustenta apenas por ter se mostrado eficiente para conseguir votos, do mesmo jeito, há anos. Dá pra fazer melhor que isso.

* Professor Adjunto na área de Jornalismo em Redes Digitais na empresa Universidade Federal do Maranhão

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