Tráfico de drogas desafia estratégias de segurança

A América do Sul tem como maior desafio na área de segurança o tráfico de drogas, e seu combate exige ações conjuntas e “solidárias” dos países mais fortes economicamente.

Essa é a avaliação do ministro da Justiça, Tarso Genro, para quem a recente ação colombiana contra as Farc abriu um “precedente perigoso” no continente.
“Os principais problemas de segurança na região estão vinculados ao tráfico de drogas, aos desequilíbrios sociais regionais, que implicam em desequilíbrios entre Estados, e a precariedade ainda da integração econômica na América Latina”, disse o ministro, em entrevista à BBC Brasil.

Segundo Genro, os países mais influentes da América Latina têm tratados desses problemas com o Brasil, como parte do processo de integração regional.

“O processo de integração econômica está melhorando, há um esforço muito grande do Brasil na constituição do Mercosul e as demais questões são abordadas de maneira diferenciada de acordo com o potencial econômico, financeiro e até de organização do Estado dos diferentes países.”

Além de ações coordenadas, a busca por mais segurança na região implica investimentos em larga escala e, segundo Genro, esses gastos têm de ser divididos por vários países.

“Eu acho que Brasil, Argentina, Venezuela, Colômbia, Chile, os países mais fortes economicamente, devem buscar relações solidárias de liderança, para a estabilidade da América Latina e o ataque às questões mais graves de segurança”, afirmou.

“O Brasil, pelo seu potencial econômico, pelo seu território, pelo seu desenvolvimento industrial e razoável nível de organização do seu Estado, pode ocupar uma posição de liderança neste grupo, mas não de tutoria, porque a liderança entre países supõe uma certa visão de protetorado.”

“Erro” da Colômbia
As tentativas de cooperação na área de segurança sofreram um duro golpe com a recente crise entre Equador e Colômbia.
Tarso Genro chama de “precedente perigoso” a ação militar colombiana em território equatoriano contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Mas o ministro diz que os outros países sul-americanos não poderiam isolar o governo colombiano por causa do incidente.

“O erro que a Colômbia cometeu já foi registrado pela própria OEA, mas mesmo assim não se pode levar a Colômbia a um isolamento que também desestabilizaria a região”, avalia.

O especialista Amado Luiz Cervo, professor emérito da UnB e professor do Instituto Rio Branco, considera que a recente crise representou um obstáculo à integração regional, mas não capaz de interrompê-la.

“A América do Sul está construindo uma zona de paz. A crise entre Colômbia e Equador é um obstáculo ao avanço do processo de integração na América do Sul. Atrasa a construção da zona de paz, mas ela continua em construção. Um sinal foi a decisão da OEA. Resolveu-se pacificamente um problema que parecia extremamente grave.”
Cervo considera que a ação colombiana foi influenciada pela ideologia da guerra de antecipação, defendida pelo governo dos Estados Unidos para justificar a invasão do Iraque, em 2003.

“Tem uma inspiração ideológica, geopolítica, americana. Havia uma condenação geral a esta doutrina na região. Aqui na América Latina prevalece o princípio da não-intervenção e da auto-determinação. Foi em nome da não-intervenção que os países da região se opuseram à guerra no Iraque.”

Amado Cervo acredita que a busca pela segurança no continente exige políticas muito diferentes das adotadas no passado.

“A segurança na América do Sul não depende mais de ações militares. Ela tem outras dimensões, que vão além disso. A América do sul transitou de uma segurança centrada no Estado e em ações militares para uma segurança que age ou reage diante de ameaças bem mais difusas como o narcotráfico, o terrorismo, a insegurança humana, a ingovernabilidade dos países”, afirma.

“Esses fenômenos não têm mais solução no esquema tradicional. Há uma transnacionalização da questão da segurança.”

Narcotráfico e a Amazônia
Tal transnacionalização implica novos desafios, especialmente para os países que compartilham a região da Amazônia, onde o narcotráfico resiste a ações de repressão das forças de segurança.

Com a globalização, você tem um aumento do comércio e do trânsito de pessoas, e é óbvio que dentro disso existem os aproveitadores que querem fazer coisas ilícitas”, diz o delegado Mauro Spósito, coordenador da Polícia Federal para as fronteiras da Colômbia, do Peru e da Bolívia.

“Mas esse não é um problema apenas desse ou daquele país, é um problema de todos. Afeta a todos os países em dois sentidos: na saúde da população e também na economia, pois esse dinheiro ilícito fere a economia de todos os países.”

O Brasil é normalmente citado como lugar de passagem da droga colombiana que viaja à Europa. Porém analistas ouvidos pela BBC Brasil destacam também a importância do país como consumidor do produto, fornecedor de insumos químicos e receptor de dinheiro sujo gerado pela atividade.

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