Saudades do carnaval de São Luís que não vivi…
Hoje, 10 de fevereiro, “sábado gordo” de carnaval, (já começo meu texto com uma expressão em desuso em São Luís, já não mais conhecida pelos jovens ou “esquecida” por aqueles que muito a usaram para anunciar que as festividades de Momo estavam começando), bate uma saudade dos carnavais que não vivi na Ilha do Amor e já não existem mais.
Nasci na geração que “brincou” os carnavais de São Luís dos clubes, me vem a memória as vesperais do Grêmio Lítero Recreativo Português, centenas de crianças fantasiadas e muito pais brincando de forma tranquila, afinal estavam em um “ambiente controlado”, segurança garantida e sem os perigos das ruas.
Paralelo a isso, outra parte da minha geração viveu os carnavais de rua do Circuito Rua do Passeio – Madre Deus, o qual contava com fofões, maisena na cara, Bicho Terra, Regional 310, Confraria do Copo, a saudosa Casinha da Roça etc.
E é desse carnaval que eu sinto falta, exatamente o que eu não vivi. Para ser mais exato, só tive a experiência uma única vez ao sair no bloco do Cordão do Ponto Com. E claro quem estava nele, a maioria era fruto dos carnavais de clubes, afinal até mesmo na rua, mais uma vez estávamos isolados dos demais, através de uma corda.
Talvez a minha geração tenha sido a responsável por transformar de vez o carnaval de São Luís. Vejo Salvador preservar o axé, Recife/Olinda o Frevo, o Rio de Janeiro o samba e as marchinhas de carnaval, mas nós ludovicenses viramos uma São Paulo, Belo Horizonte ou qualquer outro carnaval que não tenha identidade.
Tem uma música do folclórico grupo Vagabundos do Jegue, que canta exatamente o que já foi o Carnaval de São Luís.
“Eu sou doidinho pela Madre Deus, vira e mexe, eu estou por lá, sou Vagabundos do Jegue, sou Fera, sou Regional 310, sou Turma do Quinto, sou Ritmistas, sou Fuzileiro, mas quem não é? E Descascando o Alho, eu vou, de menino de fralda, eu vou, Enxirizando, eu vou… Cantar no Sindicato do Samba, sambar no Cobra das Estrelas, zanzar no C de Asa Mousinho, Serrinha é de boa fé. Com a garotada do embolada, lá no caroçudo, eu sou Noé. Sou Bicho, sou Vagabundo do Bicho, quando pegam no meu pé…”.
Em versos, vários expressões culturais ludovicenses são exaltadas, principalmente aquelas que nasceram e sobrevivem no berço da cultura popular de São Luís, o bairro da Madre Deus.
Compreendo a necessidade de retirar o circuito de carnaval da Rua do Passeio, afinal era uma tortura para quem estava internado no Hospital Português, Santa Casa e Socorrão I. Apesar da brincadeira de que “a folia, acabava melhorando o estado de saúde do enfermos”, a verdade era que a região vivia um transtorno por conta do corredor de desfiles de blocos.
Porém, outras saídas poderiam ter sido buscadas para manter a tradição da Madre Deus. O circuito da Beira Mar, uma ideia do governador Flávio Dino foi um verdadeiro sucesso, a partir de 2019. A Avenida Litorânea, passou a receber a festa em 2023 na gestão Brandão, e obviamente deram uma nova roupagem para o carnaval de São Luís.
A verdade é que ele se tornou mais atrativo, mas o carnaval se tornou isso em São Luís, pois eu e muitos da minha geração, não soubemos aproveitar o que era realmente da nossa cultura. Quando isso ocorre, perdemos identidade e infelizmente veremos nossos filhos a consumir algo que nada tem relação com nossa história e formação.
Aqui não tenho o objetivo de ir em busca d0 passado perdido no tempo, afinal compreendo que tudo tem seu tempo. Vou apenas torcer para que esse novo modelo dê certo e não seja apenas gasto público, mas sim, investimento para gerar emprego e renda, afinal fomos abençoado com as belezas naturais, temos história e uma rica cultura, só falta transformar isso em desenvolvimento social e econômico.
E apesar dessa certeza, não posso deixar de sentir falta do carnaval que não vivi, mas que apenas escutei, assisti ou li… Vou atrás do pouco que restou, tenho certeza que algo ainda resiste na Madre Deus e assim vou poder contar para as próximas gerações de forma nostálgica o que era brincar carnaval ouvindo Jegue Folia, Bicho Terra, Fuzileiros…
Que se phoda! Estão assim porque querem. Deixaram os gestores fazerem o que bem entenderam. E o que eles querem é acabar com a cultura tradicional e superfaturar os breganojos e trios baianos, uma terceira divisão da Bahia . Vc mesmo tem a coragem de dizer que esse modelo na Litorânea é mais “atrativo”. Discordo! A beleza do nosso carnaval está em sua originalidade, não em ser cópia mal feita dos outros. Quem quiser música baiana que vá pra Salvador. Mas que se exploda! Tendo Os Foliões, tá tudo bem. Quer ver Bicho Terra? E só seguir a Brandete. Vai tá lá coladinho.