O salário médio dos maranhenses e a diferença salarial entre os gêneros: qual é a “boa” notícia?
Por Alex Brito*, Enrique Esteve** e Haniel Rodrigues**
Entre 2012 e o primeiro trimestre de 2016 não houve, praticamente, nenhuma alteração no rendimento real médio do maranhense. Contudo, paradoxalmente, é a partir do aprofundamento da crise econômica no Estado que há uma elevação da remuneração média, que chegou a R$1.442,00 no começo de 2019, maior valor desde 2012, em termos reais, é claro. Logo, a crise no mercado de trabalho maranhense, por maior que seja, tardou a afetar os rendimentos médios aqui no Estado, o que só começou a acontecer a partir do segundo trimestre de 2019.
Nesse aspecto, o Maranhão apresenta uma grande diferença em relação ao país, já que este, durante o mesmo período sofreu quedas sucessivas e grandes oscilações. Em relação ao Nordeste, a crise do mercado de trabalho diminuiu a distância da Região em relação ao Maranhão, no tocante aos rendimentos. Antes da crise, o rendimento médio regional chegou a ser 40% maior que o pago no Estado, porém, a partir de 2014, essa diferença caiu muito, chegando a 11% no início de 2019, aproximando o Maranhão do rendimento médio pago na região.
Além disso, o Maranhão é o estado no Nordeste que mais ganhou no acumulado do rendimento entre o primeiro trimestre de 2014 e primeiro trimestre de 2019, com 19%, em termos reais. O segundo que obteve maior ganho foi a Paraíba, com 10%; nos outros estados o crescimento foi menor, enquanto outros, como Pernambuco e Sergipe, diminuíram seus rendimentos no acumulado no período.
Mesmo com aumentos reais, o Maranhão ainda é o estado do Nordeste com menor rendimento médio. O estado de Pernambuco, que teve seus rendimentos médios reduzidos, ainda é o que paga a maior remuneração média real da região, que é de R$1.758,00. Em outras palavras, continuamos correndo muito para nos mantermos em derradeiro.
Quando relacionamos a dinâmica dos rendimentos em relação ao gênero, observamos que o salário médio das mulheres, quando comparado aos dados do primeiro trimestre de 2012 e o primeiro trimestre de 2019, aumentou 19%, enquanto o dos homens cresceu apenas 6%, também em termos reais.
É verdade, no entanto, que o salário das mulheres ainda é menor do que o dos homens, seguindo a tendência brasileira. Contudo, no Maranhão, em função também do aprofundamento da crise econômica, essa diferença vem diminuindo. Em 2012, os homens ganhavam aproximadamente 20% a mais que as mulheres, (proporção semelhante à do Nordeste), porém, desde 2014, essa diferença vem caindo sistematicamente, chegando ao valor mínimo de 5% no segundo semestre de 2017, valor que cresceu apenas 1 p.p. no início de 2019.
Outro aspecto que chama atenção é que, entre 2012 e 2019, a taxa de desocupação das mulheres foi sempre mais alta que a dos homens. No entanto, quando se observa a população ocupada, percebe-se que são os homens, e não as mulheres, que estão perdendo emprego no Maranhão. A população ocupada masculina cai sistematicamente desde o final de 2015, enquanto a população ocupada feminina se mantém relativamente constante.
Vamos entender por partes: primeiro, o que faz a diferença salarial entre homens e mulheres diminuir no período recente não tem nada a ver com o reconhecimento de direitos e da necessária isonomia entre os gêneros, mas reflete apenas mera estratégia de redução de custos das empresas. Explicando melhor: os cargos de melhor remuneração são, geralmente, preenchidos por trabalhadores do sexo masculino. Em situações de crise, as empresas abrem mão dos ativos mais caros (o que explica a queda sistemática da população masculina ocupada a que fizemos referência acima) e preservam os ativos mais baratos, normalmente os postos de trabalho ocupados por mulheres, fazendo a distância salarial entre homens e mulheres se aproximar.
Em segundo lugar a elevação da taxa de desocupação feminina no Maranhão não reflete, necessariamente a perda de emprego das mulheres, mas fundamentalmente a elevação da procura feminina por postos de trabalho em função da perda de emprego dos seus companheiros, essa elevação da procura por emprego, por parte, das mulheres eleva a taxa de desocupação feminina no Maranhão.
Esses fatos nos lembram um ditado corriqueiramente citado no meio dos pesquisadores. Costuma-se dizer que “as estatísticas escondem mais do que revelam”. Parece-nos que em situações de crise, isso é peremptoriamente ainda mais verdadeiro. Precisamos, portanto, ter cuidado e atenção para não confundir as estatísticas que nos apresentam como uma evidência de uma boa notícia.
*Doutor em Desenvolvimento, Professor do Departamento de Economia da UFMA
** Graduandos do Curso de Ciências Econômicas-UFMA