Quem paga o pacto?
O pacto proposto pelo ex-governador José Reinaldo Tavares (PSB) parece, à primeira vista, nobre em intenções, ao sugerir que a união das forças políticas seja capaz de destravar o Maranhão de seu destino trágico de subdesenvolvimento.
Os problemas, no entanto, começam já na sua formulação, posto que sustentado numa ideia simplória de que são as desavenças entre os políticos que impedem o Estado de caminhar pra frente. Se aceitarmos essa premissa é claro que só mesmo uma alma desgarrada poderia se colocar contrário a tal ideia.
No entanto, as coisas são um bocado mais complicadas no mundo da política real. O deputado, em seu artigo, cita o Pacto de Moncloa, o acordo firmado pelas correntes políticas espanholas, em 1977, que conduziu o país a um rápido crescimento e grande estabilidade social. Ocorre que Moncloa, diferentemente do que se passa no Maranhão, foi um pacto para estabelecer as regras do jogo político e institucional, em um momento de grande trauma e de transição política. O acordo proposto por Zé Reinaldo corresponderia, no caso espanhol, a firmar compromissos com o próprio general Franco, o tiranete que dominou a cena política por décadas. Sem contar que na Espanha havia o poder do monarca, moderador, que agiu como um fiador dos compromissos assinados.
Nada mais distante do caso maranhense. Como fazer um pacto com o passado para sustentar o futuro? Não é à toa que as primeiras reações foram de júbilo, por parte de membros do grupo Sarney, e de calado constrangimento por parte dos atuais ocupantes do poder. Como explicar à população que o voto pela mudança seria negociado para mudar com os mesmos?
Nunca é demais lembrar que o mesmo Zé Reinaldo, há poucos anos, acusava de sarneysta a quem se metesse contra seus propósitos de tornar-se senador da República.
Agora, ao invocar o prestígio de Sarney, o ex-governador deixa no ar um sinal desconcertante, de que não confia na capacidade do governador Flávio Dino para atravessar a tempestade da crise econômica. E apela para o velho marujo que, ao longo de décadas, nunca hesitou em jogar ao mar quem desafiasse seu poder.
O Maranhão não merece o destino inglório de ser incapaz de fazer o passado passar.