Socorrão I chega ao último dia do ano sem comida e sem água
Passou um ano e o hospital municipal Djalma Marques voltou a ser o que era. Se já não existia o minimo de humanidade no atendimento por conta dos diversos problemas e principalmente por conta das macas espalhadas pelos corredores do hospital, a falta de comida e água na noite de segunda-feira (30) voltou a atormentar pacientes, acompanhantes e funcionários, confirmando assim o total descaso do poder público com o principal centro de urgência e emergência do estado.
Eu entrei pela primeira vez no Socorrão I no dia 17 de dezembro, graças a Deus não por conta de um parente ou amigo que estava por lá, mas para conhecer a estrutura daquele hospital. Simplesmente fiquei aterrorizado, impossível acreditar que alguém consiga ser tratado naquele local. Pacientes jogados no chão, lixeiras abertas, funcionários esgotados de trabalhar sem estrutura, material biológico espalhado para todo o lado etc. Citado recentemente por uma reportagem de amplitude nacional, o Socorrão I parece um inferno e é uma experiência que poucos tem coragem de enfrentar, caso não necessitem.
O Socorrão I iniciou 2013, sem comida em sua despensa, o diretor na época fez um campanha de doação de alimentos que ganhou repercussão nacional, foi criticado por uns e elogiados por outros, mas de certo, o fato provocou uma enxurrada de doações e atenção especial do poder público para que não faltasse mais refeições aos pacientes, acompanhantes e funcionários, pois o alimento de qualidade poderia se tornar o único alento naquele local chamado de hospital.
Menos de um ano depois, todos que vivem aquele hospital voltam a experimentar o drama de não ter o que comer e o que beber durante a noite. Quanta humilhação para quem precisa sobreviver naquele lugar. A denúncia relatada por um servidor do Socorrão I expõe essa realidade.
Os funcionários ainda puderam fazer uma “vaquinha” para comprar lanche e água, mas e aqueles que estão internado e sendo acompanhados por pessoas, que não tem dinheiro nem para pagar uma passagem de transporte público?
Não sou médico, não sou profissional da saúde, mas sou humano e nos momentos em que passei pelo Socorrão I, me desesperei ao ver pessoas passando mal e naquela situação. Eu não podia fazer nada, mas tentava ali de alguma forma tentar uma solução para o problema, mas era em vão, pois parece que aquele lugar foi escolhido para ser esquecido.
Hoje o Socorrão I volta a viver dias de agonia, 31 de dezembro chega com o sentimento tão desesperador, que não há nada mais a se desejar, simplesmente sonhar que a agonia passe e exista o básico necessário para o tratamento de pessoas.
Por fim, melhor não citar os culpados, que eles mesmos se apontem e regozijem em suas festas particulares, em seus momentos de prazer neste dia e saibam que são diretamente responsáveis por aquela situação calamitosa, a qual seres humanos que lutam pela vida estão passando.