É chegada a hora de reagir à altura e com rapidez às investidas de Bolsonaro contra a democracia

(*) Waldir Maranhão

Como afirmei em artigos anteriores, o Brasil tem dado perigosos passos na direção do retrocesso e do obscurantismo. O presidente da República, com seu jeito totalitarista de ser, insiste em governar como se fosse dono do Brasil. Esse comportamento reforça a necessidade de a opinião pública reagir à altura e com rapidez.

A democracia, bem maior de uma nação, não pode ser constantemente ameaçada porque um governante populista recorre aos absurdos para manter-se no poder e alegrar sua claque.

A questão envolvendo a realização da Copa América no Brasil após os governos argentino e colombiano terem desistido do evento esportivo, demonstra o despotismo de Jair Bolsonaro, que avança e recua em suas investidas, a depender do resultado.

A tentativa de ingerência do presidente no comando técnico da seleção brasileira de futebol fez com que muitos cidadãos voltassem na linha do tempo e parassem no episódio protagonizado pelo então preside-ditador Emílio Garrastazu Médici, que determinou a demissão do então treinador João Saldanha, sob a alegação de que era comunista. Além disso, Médici conseguiu emplacar o atacante Dario José dos Santos, o Dadá Maravilha, na equipe nacional.

Na manhã desta segunda-feira (7), depois do afastamento do presidente da CBF, Rogério Caboclo, acusado de assédio sexual e moral contra funcionária da entidade, Bolsonaro disse a apoiadores que não se envolveu na eventual troca do técnico da seleção.

Bolsonaro sabe que caso esticasse demais a corda, os jogadores da seleção brasileira poderiam se recusar a disputar o torneio, o que seria uma fragorosa derrota política. Diante desse risco, o presidente mais uma vez preferiu se fazer de tolo, como se o brasileiro desconhecesse a realidade.

Em precioso artigo, a filósofa e professora Marilena Chauí descreve Bolsonaro como “um miliciano ungido pela graça de Deus”.

“No dia 6 de janeiro de 2019 (ou seja, no Dia de Reis do calendário cristão), na Igreja Universal do Reino de Deus, o pastor Edir Macedo ungiu e consagrou o recém-empossado presidente da república, Jair Messias Bolsonaro, declarando que este foi escolhido por Deus para governar o Brasil”, escreveu Chauí.

É exatamente assim que Jair Bolsonaro se sente, um “escolhido de Deus”.

Há uma monumental diferença entre ser eleito presidente da República e ser escolhido por Deus para governar o país. E se Bolsonaro não sabe – ou finge não saber – do que se trata essa diferença, é chegada a hora de soltar a voz e ocupar as ruas, sempre respeitando as medidas sanitárias para evitar o alastramento ainda maior da Covid-19.

Também em recente artigo, o ex-ministro José Dirceu escreveu: “29 de maio foi uma demonstração de nossa capacidade, força e poder de mobilização. Agora, é preciso ampliar a união das forças políticas e sociais, conquistar a adesão de todos que se opõem ao governo genocida. Temos que ser criativos nas formas de luta, mas não podemos recuar das manifestações. Os golpistas precisam saber que estamos dispostos a lutar e vencer”.

Resumindo, Bolsonaro não foi ungido por Deus para governar o Brasil e os brasileiros precisam mostrar disposição para enfrentar a lufada de totalitarismo.

O presidente e seus apoiadores, em especial a milícia digital que atua nas redes sociais, agem como se fosse donos do país, o que não é verdade. E modulam o discurso de acordo com as necessidades e o momento.

Quando Tite externou apoio aos jogadores da seleção por causa da irresponsável decisão do governo de recepcionar a Copa América, o treinador tornou-se alvo dos bolsonaristas, que passaram a acusa-lo de comunista. É difícil classificar se isso é uma piada de péssimo gosto ou um monumental absurdo.

Fato é que Bolsonaro, como todo vocacionado para a tirania, não aceita ser contrariado. Logo após o depoimento de Nise Yamaguchi à CPI da Covid, o presidente disse que a médica, defensora ferrenha da cloroquina, foi alvo de um “tribunal de exceção” e classificou a sessão como “covardia”.

Alto lá! Bolsonaro exalta a memória do finado coronel e torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, homenageado pelo presidente durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff, mas seus apaniguados não suportam uma CPI?

Alto lá, de novo! O mesmo presidente já defendeu sessões de tortura para convocados por CPIs que recorrem à Justiça para permanecerem em silêncio.

À época da CPI dos Bancos, Bolsonaro afirmou durante entrevista: “Dá porrada no Chico Lopes [ex-presidente do Banco Central]. Eu até sou favorável que a CPI, no caso do Chico Lopes, tivesse pau de arara lá. Ele merecia isso: pau de arara. Funciona! Eu sou favorável à tortura, tu sabe disso. E o povo é favorável a isso também”.

Outra frente de ameaça à democracia que começa a ganhar corpo está relacionada ao voto impresso.

Em 7 de janeiro passado, o presidente ameaçou a democracia novamente ao afirmar que a não adoção do voto impresso nas eleições de 2022 poderia levar o Brasil a enfrentar um problema igual ou maior do que a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, por apoiadores descontrolados de Trump.

Agora, com o país direcionando a proa para as eleições do próximo ano, o tema do voto impresso volta a agitar o meio político.

Um dos braços avançados e obedientes do presidente na Câmara dos Deputados, Bia Kicis, que comanda a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), disse que eleição de 2022 só será confiável com voto impresso em 100% das urnas. Até hoje, nenhuma eleição registrou fraude comprovada nas urnas eletrônicas.

Causa estranheza o fato de Bolsonaro ter sido eleito diversas vezes, inclusive para a Presidência da República, sem voto impresso, mas agora questiona a confiabilidade das urnas eletrônicas.

Enquanto se ocupa em atacar a democracia e se preocupa com um projeto de reeleição cada vez ameaçado, Bolsonaro ignora a realidade da extensa maioria do povo brasileiro, que continua se equilibrando na corda bamba das dificuldades do cotidiano. Apesar de ter comemorado o crescimento do PIB no primeiro trimestre do ano (1,2%), o presidente fecha os olhos para a fome e o desemprego.

Ainda é tempo para dar um basta às ameaças à democracia e ao Estado de Direito.

Disse certa feita o escritor mineiro Fernando Sabino: “Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um”.

2 thoughts on “É chegada a hora de reagir à altura e com rapidez às investidas de Bolsonaro contra a democracia

  1. Quantos processos esse senhor tem nas costas? Incomodado com o fim da mamata . Pra um cara desses ser eleito é pq o povo é muito ignorante mesmo. Vagabundo.

  2. Realmente Valdir Maranhão tem “autoridade moral” para falar em defesa da Democracia Brasileira. Brincadeira de Mau Gosto.
    Bem que, como Maranhense, poderia sair em defesa da Democracia em seu Estado.
    Teria coragem para tanto?

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