Coronavírus e bolsonarismo são doenças que desafiam o país, diz Flávio Dino

UOL – Leonardo Sakamoto

O presidente Jair Bolsonaro dedicou a última semana à defesa de sua proposta de “isolamento vertical” para combater a Covid-19, ou seja, separar do convívio social apenas idosos e pessoas mais suscetíveis à doença. Conclamou a todos a abandonarem o distanciamento e o isolamento social, recomendados pela Organização Mundial da Saúde e pelo Ministério da Saúde como forma de retardar o avanço da pandemia. Ameaça baixar um decreto mandando todos voltarem à vida normal.

Flávio Dino (PC do B-MA), tem sido um dos governadores mais críticos à demanda de Bolsonaro. Para ele, a única forma dela dar certo seria colocar todos esses cidadãos “em campos de concentração”.

“Alguns dizem: ‘os fortes vão trabalhar e os fracos ficam em casa’. A síntese dessa ideologia, de inspiração eugenista, quase que nazista, seria a visão de que esses supostos fortes não teriam contato com os fracos. Ora, como faz isso? O governo vai dar casas para as pessoas? Para quem tem algum tipo de imunodeficiência ou para os idosos? É uma insensatez. É um descompromisso com a seriedade que deve inspirar o presidente da República”, afirma.

Flávio Dino conversou com o UOL sobre o enfrentamento ao coronavírus e os impactos disso para a população, a economia e a política. Para ele, o “negacionismo” do presidente fez com que medidas para garantir salários,
proteger empresas e distribuir renda a informais e desempregados demorassem para ser anunciadas, causando um problema social. O Maranhão registrou, neste domingo (29), o primeiro óbito por Covid-19.

Disse que os governadores estão tendo que tocar muita coisa sozinhos porque o governo federal não ajuda.
“Só há duas posições: quem defende, neste momento, medidas preventivas e quem, como o próprio Bolsonaro, acha normal que alguns morram. Eu quero ver ele dizer isso às famílias das vítimas”, diz. “Claro que esperamos que o mais breve possível seja viável rever certas restrições. Mas, no momento, o consenso científico é de que o distanciamento ou isolamento social é o único caminho que temos.”

Afirma que o ideal é que Bolsonaro termine seu mandato, mas que o país e as instituições têm um limite do que podem suportar. “Se diante da gravidade da perda de uma vida humana, ele menospreza, fico a imaginar: o que poderia fazer com que ele mudasse?” E não descarta o impeachment como uma das possibilidades institucionais.

“Meu diagnóstico é que o Brasil se defronta com duas patologias, duas doenças. Uma, no sentido estrito da palavra, que são as síndromes derivadas do coronavírus. A outra doença é uma patologia política que atende pelo nome de bolsonarismo ou Bolsonaro. Temos que cuidar de uma de cada vez. Agora, nosso foco é derrotar o coronavírus.”

Também mandou um recado à esquerda ao afirmar que lideranças políticas que não estão no Congresso Nacional precisam aprender com o exemplo de união que os parlamentares do campo democrático tem dado durante a crise.

Você escreveu que a não ser que Bolsonaro esteja pensando em colocar idosos e pessoas com saúde frágil em campos de concentração, o “isolamento vertical” não funcionaria. Mantém essa avaliação?

Em meio à política de distanciamento social visando a amenizar a propagação do vírus e garantir o famoso “achatamento da curva” da pandemia, houve a introdução desse elemento exótico. Esse suposto “isolamento vertical” não é praticado, simplesmente, em lugar algum do mundo. Nem o próprio Ministério da Saúde sabe explicar como se faz isso.

Alguns dizem: “os fortes vão trabalhar e os fracos ficam em casa”. A síntese dessa ideologia, de inspiração eugenista, quase que de corte nazista, seria a visão de que esses supostos fortes não teriam contato com os fracos. Ora,
como faz isso na prática? O governo vai dar casas para as pessoas? Para quem tem algum tipo de imunodeficiência ou para os idosos? É uma insensatez. É um descompromisso com a seriedade que deve inspirar o presidente da República.

Só há duas posições: quem tem uma posição de prudência – e, nesse momento, defende as medidas preventivas – e quem, como o próprio Bolsonaro, acha normal que alguns morram. Hoje [sexta, dia 27] mesmo, acabou de dizer:
“bom, haverá mortes, mas paciência… é assim mesmo”. Eu quero ver ele dizer isso às famílias das vítimas.

O chefe de Estado tem o dever de respeitar a memória das vítimas e suas famílias. Claro que nós esperamos que o mais breve possível seja viável rever certas restrições. Mas, no momento, o consenso científico é de que as
restrições – o chamado distanciamento ou isolamento social – são o único caminho que nós temos.

Leia a entrevista completa aqui…

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