Ressignificar: os desafios e recomeços depois da aposentadoria

Você se acostumou a trabalhar a vida inteira e, de repente, percebe que a sua rotina mudou e que seus propósitos diários não são os mesmos. Vista por muitos como um período de descanso, a aposentadoria pode, na verdade, trazer consigo desafios psicológicos. É o caso de Maria Teresa, 85. Assim que teve sua aposentadoria assinada, começou a ficar depressiva. O motivo? Não tinha mais o que fazer!

“Eu trabalhei desde os 10 anos de idade e de repente me vi sem fazer nada. Essa não sou eu! Estou aposentada, mas de vez em quando eu costuro uma rede, faço um tapete e vendo. Não é nem pelo dinheiro, só pra me manter ocupada mesmo”, conta.

E quando você se aposenta contra a sua vontade? Foi o que aconteceu com Tarcys Noleto, 36 anos, ex-mecânico. Ele sofreu um acidente de trabalho e perdeu parte do movimento do braço esquerdo. Com a dificuldade em retomar a rotina, precisou se aposentar por invalidez.

“Eu nem liguei tanto para o braço. Fiquei mais preocupado em não ser útil, em não conseguir mais trabalhar, ganhar dinheiro e sustentar meu filho. Comecei a beber demais, de segunda a segunda, o dia todo. Estava em uma depressão profunda, sem saber quem eu era e o que eu poderia fazer. Só na terapia consegui dar algum sentido à minha existência”, contou o ex-mecânico.

Adaptação às mudanças

De acordo o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), homens podem se aposentar a partir dos 65 anos de idade ou com 20 anos de contribuição; as mulheres a partir dos 63 anos de idade ou 15 anos de contribuição. Assim, são mais de 23 milhões de aposentados no Brasil.

O professor de psicologia da Facimp Wyden, Judson Alves, explica que é natural o desconforto com as diferenças de rotina. “Toda e qualquer mudança gera algum tipo de desconforto. No caso da aposentadoria por idade, as mudanças na rotina são fatores que podem gerar estresse e ansiedade”, explica, frisando que, se não houver o devido preparo psicológico, a aposentadoria pode ser acompanhada por sentimentos de inutilidade e ansiedade. “Pensamentos como ‘não sou mais útil’ e ‘só estou dando trabalho’ podem ser comuns entre aqueles que acabaram de se aposentar”, avalia.

Para lidar com esses sentimentos, o apoio familiar é crucial, além de se manter ativo com exercícios físicos, hobbies e novos projetos de vida. Em alguns casos, acompanhamento psicológico é necessário para ajudar o idoso a aceitar e valorizar essa nova fase. Afinal, mesmo aposentados, seja por idade ou invalidez, é essencial que os indivíduos continuem buscando fontes de satisfação e realização. “Alguns escolhem parar de trabalhar e focam em atividades que proporcionam prazer, enquanto outros encontram sentido em novas atividades,” comenta Alves. Em ambos os casos, a chave é sentir-se útil e realizado.

“A vida não acabou, ela só precisa ser ressignificada”, conclui o professor da Facimp Wyden.

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