Faz sentido você confiar sua vida em quem recebe um salário mínimo e vive em esgotamento físico/mental?

Durante a semana que passou, representantes do Conselho Regional de Enfermagem do Maranhão foram as portas dos hospitais privados de São Luís, para protestar contra o não cumprimento do pagamento do Piso Salarial, que é lei Lei 14.434/22, para auxiliares, técnicos e enfermeiros. No decorrer das manifestações, o presidente do órgão de representação, José Carlos Júnior, revelou que a Rede D´or/Udi Hospital chega a pagar um salário mínimo para o auxiliar de enfermagem. Diante dessa informação, me levei a refletir, quanto a questão: o cidadão paga planos de saúde caríssimos e tem a sua vida nas mãos de um profissional que está sobrecarregado e ganhando menos de R$1500. Faz sentido?

Os planos de saúde a cada ano que passam ficam cada vez mais caros e os conglomerados de saúde, mais ricos. Em São Luís, todos os principais hospitais particulares já são controlados pelas grandes empresas – Rede D´or/UDI; Hapvida/Guarás; Athena Saúde/Maranhense (antigo Centro Médico) e Dasa/São Domingos, a propósito, este último foi o único que já fez um acordo coletivo com os trabalhadores.

Pegando por base, o preço do plano de saúde Bradesco, considerado um dos melhores do país, uma pessoa na faixa etária dos 35 ao 40 anos paga quase um salário mínimo por mês, já um assegurado de mais de 60 anos, paga mais de R$3600 por mês. Já evidencia os custos dos convênios.

No Brasil, mais de 51 milhões de brasileiros possuem plano de saúde, isso representa quase 25% da população. No Maranhão, os números apontam 521 mil, ou seja, menos de 10% dos habitantes. Números da ANS apontam para um lucro de R$3 bilhões dos planos de saúde no Brasil em 2023.

Diante de números estratosféricos é necessário uma reflexão em quem os assegurados de plano de saúde estão confiando suas vidas.

Afinal um profissional que é responsável por aplicar um remédio, aferir pressão, coletar sangue e outros procedimentos, está ganhando R$1414 e trabalhar diariamente, naturalmente não está numa posição de tranquilidade para desempenhar com excelência seu trabalho.

Vale lembrar que muitas vezes, este profissional tem que ter pelo menos 2 ou 3 empregos para ter uma renda digna. Em compensação, o trabalhador está extremamente esgotado fisicamente e psicologicamente.

E aqui não falamos apenas de auxiliares, técnicos e enfermeiros, que estão em maioria no quadro de funcionários de qualquer hospital, mas também de todos os outros, inclusive os médicos, que recebem valores absurdos dos planos de saúde para realizar consultas médicas.

Sem um valor que acham justo receber, muitos profissionais são questionados quanto as suas condutas em consultas por meio de convênio.

Certo é que é extremamente necessário discutir a saúde privada no Brasil, envolvendo planos de saúde, donos de hospitais, os trabalhadores e claro, a sociedade, afinal é ela que mantém essa engrenagem funcionando.

Alguns especialistas no setor apostam, que se não houver mudanças em até 10 anos, não estaremos mais falando de planos de saúde como existem hoje, mas sim, em um modelo muito próximo ao que ocorre nos Estados Unidos, onde existe apenas o seguro médico, e isso levará a um efeito dominó de problemas, pois o Sistema Público de Saúde, que já atende próximo ao esgotamento os quase 150 milhões de brasileiros sem plano. Imagina, se esse número aumentar…

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