Brasil tem como lidar com vitória de Donald Trump
O governo brasileiro tem as ferramentas para lidar com o aumento da volatilidade no mercado financeiro causado pela surpresa com a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, disse um alto funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI) em conversa com jornalistas ontem.
O economista do FMI destacou que, em termos comerciais, o Brasil não é muito exposto aos americanos e que ainda é muito cedo para avaliar o que pode acontecer na maior economia do mundo com a vitória de Trump. “Ainda não sabemos o conteúdo das políticas do novo governo. Temos algumas indicações, mas ainda muito vagas.”
O primeiro impacto sentido pelos mercados emergentes com a eleição de Trump foi por meio das moedas, e a do Brasil foi uma das mais afetadas, destaca o FMI. Além disso, em algumas economias, as curvas de juros subiram, sinalizando que os investidores preveem taxas mais altas no futuro. “Isso é um movimento típico de um choque externo de incerteza.”
O porta-voz do Fundo lembrou que em outros momentos de nervosismo no mercado internacional, como em 2013, quando o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sinalizou que mudaria a política monetária do país, o Brasil conseguiu, por meio da taxa de câmbio flexível e das reservas internacionais, lidar com o choque externo.
Além disso, lembrou o economista, o BC usou o programa de swaps cambiais como outra ferramenta. “As autoridades brasileiras têm as ferramentas para lidar com a volatilidade que estamos vendo agora”, disse.
Relatório
Ontem o Comitê Executivo do Fundo divulgou o relatório Artigo IV sobre o Brasil, concluído em outubro, ou seja, antes do resultado das eleições dos Estados Unidos. No documento, o organismo internacional, liderado por Christine Lagarde, ressalta que as reservas do Brasil, de acordo com algumas métricas, inclusive as do FMI, estão acima do adequado, mas devem ser preservadas. As reservas e o regime de câmbio flexível são fontes de força para a economia brasileira.
O FMI também considera correta a estratégia do BC de ir reduzindo o estoque do programa de swap cambial. Sobre as ações da autoridade monetária na semana passada para acalmar o mercado de câmbio, a avaliação do alto funcionário do Fundo é que a estratégia foi adequada.
No relatório, o comitê afirma que a economia brasileira pode estar perto de sair de uma forte recessão, mas enfrenta um longo e duro caminho de recuperação que depende da aprovação de reformas impopulares. “Os diretores destacaram fortemente a necessidade de consolidação fiscal para garantir estabilidade macroeconômica”, disse o FMI em comunicado.