Discurso de Carlos Brandão é “salvaguarda” para decisões políticas de 2026

A recente declaração do governador Carlos Brandão de que “não entregará o governo para quem vai perseguir seus aliados” é muito mais do que uma frase de efeito político. Trata-se de um recado claro, carregado de significado estratégico, voltado não apenas para o eleitorado, mas, sobretudo, para a própria base governista e os “dinistas” — grupo político vinculado ao ministro do STF, Flávio Dino.
A fala, feita com ares de desabafo, funciona como uma salvaguarda antecipada diante das indefinições que cercam a sucessão de 2026. Ao declarar sua fidelidade aos aliados, Brandão demarca território e, ao mesmo tempo, coloca pressão sobre os nomes que pleiteiam seu apoio, especialmente aqueles que integram a própria base, mas cuja ambição futura pode representar ameaça a figuras que hoje são sustentação de seu governo.
O discurso tem duplo efeito. De um lado, acena positivamente para prefeitos, deputados e lideranças que esperam ser reconhecidos por sua lealdade ao projeto brandonista. De outro, impõe uma espécie de vigilância comportamental sobre os próprios aliados, especialmente os dinistas, cujos movimentos recentes sugerem articulações independentes com vistas ao comando do Estado.
Em essência, Brandão não está apenas defendendo seus companheiros — está lançando um aviso: o jogo de 2026 já começou (ainda que diga que 2025 é ano de trabalho), e a neutralidade não será opção. Ele quer garantir que quem vier a sucedê-lo, seja com seu apoio ou sem, não vire as costas para o grupo que o ajudou a se consolidar no poder. Mais ainda: quer ser o fiador político de uma transição segura, sem riscos de retaliações internas.
A postura é típica de quem compreendeu que, em tempos de alianças frágeis e projetos pessoais inflados, é preciso começar cedo a costurar fidelidades. A fala de Brandão, portanto, é menos sobre 2025 e mais sobre 2026 — um ano que já começou a ser disputado nos bastidores. E, nesse jogo, a lealdade será tanto moeda quanto trunfo.
Se a política maranhense fosse um restaurante, Carlos Brandão (ou Carlos Indicação) estaria servindo um prato requentado de favoritismo familiar, temperado com discursos reciclados e coberto com uma generosa porção de conveniência. A ideia de que indicação política e nepotismo são coisas distintas é tão convincente quanto um peixe tentando explicar que não está molhado.
E essa defesa entusiasmada do governador indicação? Parece até propaganda de loja em liquidação: “Aproveite agora, só neste mandato, a incrível oferta de sucessão hereditária! Leve um governo e ganhe um sobrinho administrador!”
Mas o povo do Maranhão já viu esse filme tantas vezes que sabe exatamente como termina—com as mesmas famílias, os mesmos sobrenomes e a mesma ladainha de sempre. Se querem continuidade, que seja de boas ideias e governança eficiente, não de dinastias políticas fantasiadas de competência.