No centenário do nascimento de Leonel Brizola, lembro que o Brasil precisa cada vez mais de ações socializantes

(*) Waldir Maranhão

No último artigo enfatizei a disparidade social existente no Brasil e o compromisso que de todo homem público deve assumir em relação ao tema. É preciso reduzir urgentemente esse fosso que separa ricos e pobres, privilegiados e abandonados. A persistir esse cenário discriminatório é impossível falar em retomada da economia.

De nada adianta promessa feita em cima de palanque, pois na prática, passadas as eleições, a dura realidade enfrentada pelos brasileiros continua a dar o tom do cotidiano.

Em ano de eleições, o cidadão precisa estar atento às propostas dos candidatos no campo social, sem as quais torna-se quase impossível ir às urnas com esperança.

Como sempre destaco, não se trata de ser de esquerda ou de direita, mas de ser justo e preocupado em relação aos brasileiros, em relação aos meus conterrâneos, os maranhenses, que ao longo da pandemia afundaram ainda mais na vala do desespero.

O ex-presidente Lula, que tem desafetos no eleitorado nacional, como acontece com qualquer político, agora enfrenta a fúria de outros pré-candidatos ao Palácio do Planalto.

Essa reação dos presidenciáveis decorre da vantagem que Lula vem consolidando em todas as pesquisas eleitorais. O petista aparece como vitorioso em todas as simulações feitas pelos institutos de pesquisa, podendo, inclusive, ser eleito no primeiro turno.

O jogo eleitoral tende a ser mais duro e covarde de agora em diante, mas o ex-presidente só não subirá a rampa do Palácio do Planalto mais uma vez se cometer algum erro grave na campanha, algo difícil de acontecer. Até mesmo aliados dos presidenciáveis admitem a larga chance de Lula voltar à Presidência.

Conjecturas políticas e eleitorais à parte, é preciso reconhecer que, desde a redemocratização, o único período em que o brasileiro menos aquinhoado sentiu a corda no pescoço afrouxar foi no governo Lula.

Isso se deve às políticas sociais que o petista implantou nos oito anos em que esteve na Presidência, algumas das quais herdadas de Fernando Henrique Cardoso e melhoradas na gestão petista. Goste-se ou não de Lula, é impossível negar a realidade dos fatos.

O atual presidente da República, Jair Bolsonaro, que desde a eleição de 2018 não desceu do palanque, não conseguiu emplacar qualquer programa social que merecesse destaque.

O auxílio emergencial, adotado no rastro da pandemia de Covid-19, só alcançou valor mais elevado por pressão de parlamentares da oposição. Mesmo assim, o pagamento do benefício demorou a sair, como se a fome pudesse esperar. Como disse o grande e saudoso sociólogo Herbert José de Sousa, o Betinho, “quem tem fome, tem pressa”.

Encerrado o auxílio emergencial, Bolsonaro decidiu rebatizar o Bolsa Família, agora Auxílio Brasil. Tentou emplacar um benefício no valor de R$ 400 até o fim de 2022, mas o viés eleitoreiro da medida fez com que parlamentares reagissem à altura. Mudou o nome do programa “Minha Casa, Minha Vida”, agora chamado “Casa Verde e Amarela”. Alterar os nomes de programas sociais serve para nada em termos sociais, mas tem efeito de embuste nas urnas eleitorais.

Como homem público preocupo-me com todos os brasileiros, mas meus olhos estão voltados para a tragédia que assola o Maranhão. Não posso pensar e agir de forma diferente, pois deparo-me diariamente com a triste realidade que bate à porta dos meus conterrâneos.

Leonel de Moura Brizola, que neste 22 de janeiro completaria 100 anos, foi certeiro ao afirmar que “uma criança só pode aprender quando se nutre, e não quando está cheia de parasitas.”

Em março de 2020, quando a pandemia do coronavírus começava a avançar com mais ímpeto no país, Bolsonaro, que continua agarrado ao negacionismo, disse que o brasileiro merecia ser estudado, pois pisa no esgoto e nada acontece. Essa fala absurda e desconectada da realidade serviu para o presidente colocar em xeque, naquele momento, a cruzada do coronavírus.

Rotulado como genocida, Bolsonaro tentou ludibriar a opinião pública com o negacionismo que o acompanha até agora. O brasileiro precisa de saneamento básico, de educação de qualidade, de emprego, de dignidade. Nada que fuja do campo da democracia, do bom-senso, da cidadania.

Para concluir, cito um pensamento que vai ao encontro do meu. Disse o cantor e compositor Caetano Veloso: “Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome.”

3 thoughts on “No centenário do nascimento de Leonel Brizola, lembro que o Brasil precisa cada vez mais de ações socializantes

  1. Waldir Maranhão que voltar ao Parlamento
    Esse Mané nada aprendeu com a rasteira que recebeu de Lula e Flávio Dino em sua então pretensão de ser candidato ao Senado.
    2022 é Ano Eleitoral. Waldir vai continuar sem Mandato, à disposição do Ministério Público e do Judiciário, respondendo por seus atos e omissões.

  2. No dia 22 de Janeiro de 1922, há exatos 100 anos, nascia Leonel Brizola.

    Como Marxistas Revolucionários somos duros críticos da trajetória do legendário Brizola, porta-voz do nacionalismo burguês no Brasil, limitado por seu próprio conteúdo de classe, mas respeitamos a sua combatividade e a denúncia de fazia da submissão do Brasil ao imperialismo e a sua maior representante política no país, as organizações Globo.

    Lembramos que o histórico fundador do PDT, que inicialmente apoiou o governo de Lula em 2003, havia rompido com o PT em função da opção entreguista e do arco de aliança reacionário montado para dar apoio político a Frente Popular.

    O velho Brizola pouco antes de morrer em 2004 travava uma dura batalha no interior do PDT para tirar completamente o partido da “base aliada”, apesar dos inúmeros arrivistas sedentos por cargos e verbas estatais do Planalto.

    Pessoalmente Brizola se preparava para sua candidatura à prefeitura do Rio em 2004, com uma plataforma política de oposição frontal ao governo de Lula, mas a sua vida faltou a este último e decisivo “encontro”, deixando o PDT “órfão” como mais um partido fisiológico e nas mãos de picaretas sem nenhuma história de luta, como Lupi, e seus comparsas mafiosos, como Weverton, e Ciro Gomes, candidato a presidente pelo PDT e representante das reacionárias oligarquias nordestina.

    O carioca Carlos Lupi foi quem se apropriou do espólio partidário do finado Leonel Brizola, que em função de sua morte súbita não preparou um herdeiro político a sua altura no PDT.

    Lupi, sem a menor história no trabalhismo e dotado de uma “ideologia” pragmática, vendeu o partido para a primeira oferta do governo da frente popular, com o qual o velho Brizola mantinha uma certa reserva e depois para Ciro Gomes que foi o candidato a presidente pela legenda em 2018.

    Neste sentido, o atual PDT de Ciro, Lupi e Weverton representa uma caricatura grotesca do que foi o velho “Brizolismo”, com toda a sua carga de incoerências e sua própria natureza de classe.

    O PDT hoje é uma sigla oca ultracorrompida que nada tem a ver com o velho nacionalismo burguês de Brizola e Darcy Ribeiro. Do velho nacionalismo burguês de Jango, Darcy Ribeiro e Brizola parece que não restou muita coisa, apenas os oportunistas PDT sem o menor perfil ideológico, povoado por máfias sindicais e oligarquias regionais sem a menor história política, como os irmãos Gomes no Ceará e Weverton aqui no Maranhão.

    Brizola, que chegou a presidir a Internacional Socialista, deve estar se remoendo no túmulo ao ver seu velho partido nacionalista burguês ser traficado por Lupi em negociatas com figuras sinistras deste calibre, como Ciro Gomes que chegaram a defender a prisão de Lula, agora mudando de posição em função dos ventos da “opinião pública” que levara a liberdade do dirigente petista.

    Para os “nacionalistas” do PDT que juram fidelidade ao trabalhismo de Brizola fica a patética tarefa de hoje aceitar passivamente os “companheiros” representantes das reacionárias oligarquias inimigos históricos dos trabalhadores, de qualquer traço de soberania nacional e, obviamente, do Socialismo!

    Leonel de Moura Brizola era o presidente de honra do PDT e vice-presidente da Internacional Socialista. Um dos políticos burgueses mais antigos em atividade no país, sua trajetória remonta do populismo varguista, ao qual aderira formalmente em 1945. Nesta época fundou um núcleo do PTB (partido recém-criado por Vargas) no Rio Grande do Sul na rabeira do chamado “movimento trabalhista”, uma vertente do populismo na América Latina, o qual primava em seu âmago por atrelar as massas ao Estado capitalista através dos aparatos sindicais semi-estatais, estimulando a formação do peleguismo. Para o populismo era necessário destruir a independência de classe do jovem proletariado brasileiro que começava a se enfrentar com a exploração e miséria capitalistas, características de um país semicolonial. Um ano depois fora eleito deputado estadual e posteriormente reeleito para um segundo mandato (1950), tornando-se líder da bancada petebista na Assembléia Legislativa. Cinco anos depois, consegue eleger-se prefeito de Porto Alegre com um número recorde de votos, superando em muito a soma de todos os adversários juntos. Até então sua trajetória era obscura. Somente a partir de 1958, após assumir a cadeira do Palácio do Piratini como governador do estado do Rio Grande Sul, é que sua figura começa a ganhar projeção nacional, ao encampar as companhias de energia elétrica (Bond & Share) e de telefonia (ITT), pertencentes a empresas norte-americanas. João Goulart, seu cunhado, assume a vice-presidência do país no dia 31 de janeiro de 1961.

    Em agosto de 1961, Jânio Quadros renuncia ao cargo de presidente da república. Seu governo estava imerso numa profunda crise econômica, fazendo com que promovesse vários “ajustes” antioperários na economia a mando do imperialismo. Tais ajustes provocaram grande descontentamento nos trabalhadores e em setores do empresariado. Neste quadro, a renúncia de Jânio foi uma malograda tentativa de autogolpe de cunho populista que consistia em deixar o governo em crise para voltar aclamado pelas massas populares se batendo com as “forças ocultas”. O vice-presidente da república, “Jango”, que estava na China na ocasião, seria automaticamente empossado, não fosse o veto dos ministros ligados às FFAA que o acusavam de entregar os sindicatos aos “agentes do comunismo internacional”. Um golpe militar estava se gestando, a sede da UNE no Rio de Janeiro foi invadida pela polícia.

    Alarmado com um possível golpe branco, Brizola organizou a chamada “Campanha pela Legalidade” em apoio à posse de Jango. Na condição de governador do estado, encampou as rádios Guaíba e Farroupilha de Porto Alegre, dando o ponta-pé inicial para a formação da “Cadeia da Legalidade”, ou seja, a adesão de 104 emissoras de rádio à campanha em nível nacional. Brizola requisitou da fábrica de armas Taurus, três mil revólveres e distribuiu-os a voluntários de sua absoluta confiança política e armou trincheiras em torno do Palácio Piratini. Recebera, em poucos dias, o decisivo apoio do comandante do III Exército, o general Machado Lopes, declarando-se fiel também a João Goulart.

    Somente no dia 2 de setembro a tentativa de golpe fora dissuadida, quando o Congresso Nacional aprova uma emenda à Constituição que institui o regime parlamentarista, uma manobra que retira poderes do presidente da república. Desfeita a ameaça, Brizola tratou de desmobilizar a população. A sua “resistência” jamais questionou o regime político; ao contrário, fora cimentada pela Constituição burguesa, segundo a qual “estando a presidência vaga quem assume é seu vice”. Ou seja, não adquiriu contornos de levante popular armado, nem propunha algo semelhante, buscava a continuidade do democratismo burguês. O que Brizola fez, foi canalizar o forte descontentamento popular das massas para uma saída institucional nos marcos do regime vigente.

    A mobilização organizada por Brizola conseguiu impedir o golpe? Em parte sim, porque serviu para demonstrar que o Exército ainda se encontrava dividido (o importante III Exército, por exemplo estava ao lado de Jango) interna e externamente, uma vez que a aliança com o capital financeiro internacional ainda não estava totalmente cristalizada, o que viria ocorrer três anos mais tarde.

    No fatídico dia 31 de março, quando as tropas saíram às ruas, Brizola conclamou a que Jango resistisse. Jango imediatamente tratou de demove-lo desta idéia. Brizola, então se submete, subordina-se à covardia e passividade política típicas dos governos populistas que temem a ação das massas populares. Após o golpe de 1964, Brizola praticamente saiu da cena política, dedicando-se à vida de latifundiário nas suas fazendas no Uruguai, para só retornar em 1979 com a “Anistia” concedida pelos militares.

    A DEFESA DE UM TRABALHISMO RECICLADO

    Brizola, recolhido às suas fazendas no Uruguai, na condição de latifundiário, estava afastado da política, tempo suficiente para estreitar seus laços políticos com os grandes “estancieiros” — como eram conhecidos os grandes latifundiários dos pampas gaúchos — da fronteira do RS com o Uruguai. Em 1977, através da “Operação Condor” fora expulso do Uruguai, sendo obrigado a exilar-se em Portugal e depois nos EUA, quando entrou em contato com a social democracia européia (II Internacional). Dois anos mais tarde, inicia uma articulação da qual surge a “Carta de Lisboa”, um libelo da fundação do “socialismo moreno”, agora sob forte influência de intelectuais como Darcy Ribeiro que tinha a educação e as questões sociais como manto ideológico de sua nova orientação política (a idéia dos CIEPs, por exemplo). Na realidade, Brizola queria se livrar da pecha de “subversivo” que lhe fora inculcada pelos militares durante todo esse tempo.

    Em 1982, nas primeiras eleições diretas para governador após o golpe de 1964, Brizola candidata-se ao governo do Rio de Janeiro. Quase sem chances diante das candidaturas já alicerçadas de Miro Teixeira (PMDB), Sandra Cavalcanti (PTB) e Moreira Franco (PDS), no correr do processo eleitoral sua campanha cresce e supera seus concorrentes de maneira surpreendente. Os militares tentam barrar sua vitória através de fraude eleitoral com a ajuda da Rede Globo, no que ficou conhecido como “Escândalo Proconsult”, que consistiu na apuração dos votos primeiro do interior do estado, onde Brizola era eleitoralmente fraco. A divulgação dos resultados da capital foi retardada ao máximo, dando margem a uma descarada fraude eleitoral. Brizola dá início à denúncia do estelionato em curso, estimulando uma imensa mobilização popular para depois fechar um acordo de “governabilidade” com o ex-presidente João Figueiredo, defendendo inclusive a prorrogação do mandato do milico de plantão por mais um ano.

    O FRACASSO DO NACIONALISMO BURGUÊS E O OCASO DO BRIZOLISMO

    O golpe militar de 1964 foi produto do esgotamento do nacionalismo burguês e do populismo, muito embora Brizola tenha mantido fôlego até as eleições presidenciais de 1989. Derrotado nestas eleições, segue em franco declínio político. Em 1990, já desgastado, Brizola consegue eleger-se para o governo do Rio de Janeiro com a ajuda providencial do PT. Neste ano, no Rio Grande do Sul, o PDT também consegue a vitória para o governo através da figura de Alceu Collares, o colaborador mais próximo de Brizola até os últimos dias.

    A decadência de Brizola enquanto fenômeno de massas torna-se mais evidente quando declara apoio político a Fernando Collor, em troca de verbas para o Rio de Janeiro. Posição que manteve até os últimos instantes do impeachment de Collor. Ao ver o barco do PDT afundar, inúmeros “quadros” formados por Brizola abandonaram o antigo chefe nos últimos 10 anos (Saturnino Braga, Jamil Haddad, Marcelo Alencar, César Maia e Garotinho).

    Em 1994 Brizola tenta alçar vôo sem a ajuda do PT, candidatando-se a presidência da república, é fragorosamente derrotado, comparada sua votação tanto a FHC como a de Lula. Nas eleições presidenciais seguintes integra-se à frente popular, compondo como vice a chapa de Lula.

    Brizola, o velho caudilho das causas burguesas, morreu quando costurava uma aliança com partidos da direita pró-imperialista (PFL e PSDB) para construir uma alternativa conservadora ao governo Lula. Enquanto diante dos holofotes da mídia criticava demagogicamente à “esquerda” o governo Lula/Alencar, por detrás dos panos articulava uma “oposição” à frente popular com os setores mais podres e reacionários da burguesia nacional. Esta é a marca indelével de Brizola, uma caricatura do esgotado nacionalismo burguês, o mesmo que agora faz o oligarca reacionário Ciro Gomes e o Marginal Weverton Racha!

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