UFMA concede, nesta terça-feira, o título “Professor Honoris Causa” ao docente Luiz Pazzini, in memoriam

Nascido em 6 de outubro de 1953, em Severínia-SP, Luiz Roberto de Souza, mais conhecido como Luiz Pazzini (nome artístico que escolheu), completaria, hoje, 67 anos. Ele faleceu no dia 29 de abril de 2020, decorrente de complicações respiratórias causadas pela Covid-19.

Para homenageá-lo, in memoriam, a Universidade Federal do Maranhão entregará o título de Doutor Honoris Causa, à família do mestre Luiz Pazzini. A solenidade ocorrerá nesta terça-feira, 6, às 18 horas, de forma híbrida, ou seja, presencial (CCH) e remota (transmissão pelo YouTube).

O homenageado era graduado em Artes Dramáticas pela Universidade de São Paulo (USP) e morava havia mais de 20 anos no Maranhão, local onde deixou um grande legado e muitos amigos.

Luís Pazzini era professor aposentado do departamento de Artes Cênicas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), onde iniciou sua carreira na docência em 1992, quando chegou a São Luís para assumir a vaga de professor do magistério superior no extinto departamento de Artes, exercício no qual ele demostrou ser um profissional dinâmico, perseverante e agregador.

Ele foi responsável pela formulação e fundação do curso de licenciatura em Teatro, em 2005, e do Centro de Artes da Universidade.

Desde 2001, ele era diretor do grupo Cena Aberta e coordenou o projeto de extensão “Memória e Encenação em Movimento: ABC da Cultura Maranhense”, que ofertava oficinas para professores, alunos, atores e quilombolas do Maranhão.

Em 2016, Pazzini foi homenageado na XI Semana de Teatro no Maranhão e teve quatro espetáculos encenados em sua homenagem, entre eles, “Negro Cosme, “Cofo de Estórias”, “Pigmaleão” e “Lulu”. Ele inspirou diversos atos de solidariedade por parte de quem reconhecia a sua luta no Maranhão.

Em uma reflexão escrita pelo professor Arão Paranaguá, do departamento de Artes Cênicas, após o falecimento do Mestre Luiz Pazzini, ele lembra que, logo nos primeiros momentos, aventaram a possibilidade da criação de um memorial que salvaguardasse a memória do seu trabalho artístico e pedagógico, ou seja, escritos acadêmicos, esboços, figurinos, cenários, imagens, livros, etc.

“Em seguida, reiterou-se a possibilidade de dar a ele um lugar de destaque no panteão das honrarias institucionais, ocasião na qual o reitor Natalino Salgado externou sua determinação em intitular o novo Centro de Artes da UFMA como “Mestre Luiz Pazzini”, cuja decisão já está protocolada e encontra-se em trâmites internos”, complementa Paranaguá.

As intervenções culturais, palestras, os saraus, as performances e peças teatrais que produziu, dos primeiros instantes ao fim de sua carreira, passaram a ser vistos nos câmpus e fora deles, para depois alçarem voo rumo a outras regiões brasileiras.

Fora das salas de aula, Pazzini já atuou como oficineiro, preparador de elenco, diretor de peças, ator, agitador cultural e colaborador voluntário de escolas e centros culturais. Ele realizou essas atividades até se aposentar, em 2015. Nessa condição, Arão Paranaguá lembra que Pazzini seguiu a vertente da criação, seja explorando possibilidades e espaços, seja arregimentando parceiros para atos colaborativos de transgressão à ordem, que ele considerava muito ordeira, portanto, surda, cega e muda.

“Quem não o conheceu de perto pode imaginar quanto deve ter sido uma pessoa inquieta, desde a infância, dessas que cultivam sonhos sem medir esforços na sua realização; talvez, antes mesmo de vir para o Maranhão, ele já estivesse entregue ao fazer artístico, ao estudo e à crítica da arte, de corpo e alma. A história mostrou que muito mais que imaginação, foi dessa maneira que ele levou a vida”, contou Paranaguá em sua reflexão.

O Mestre Luiz Pazzini esteve durante vinte e oito anos na terra de Sousândrade, Floriano Teixeira e Aldo Leite; foi um período frutuoso, em que criou várias obras e realizou muitos outros feitos. “Mesmo nos dias que precederam a sua morte, em plena quarentena, ele continuou a produzir arte, concebendo e fazendo sozinho quatorze audiovisuais referentes ao projeto que denominou “Leitura Dramática de Fragmentos em Quarentena”. Fez isso porque considerava insuportável a passividade doméstica imposta pelo confinamento — e não somente a sua!”, relembrou Arão.

Segundo o docente, Pazzini entregou sua energia derradeira à produção das leituras dramáticas que passou a enviar para os contatos que tinha no celular, já que não gostava de postar nada nas redes sociais. “Fez isso porque era um forte, e também porque não conseguia conter o ímpeto que o levava a criar e a expor a sua criatividade transbordante. E, na superação dos limites tecnológicos afeitos à sua geração, improvisou cenários, adaptou figurinos, selecionou objetos de cena e gravou diversos audiovisuais, com a câmera do celular”, detalhou.

Arão Paranaguá contou que a última gravação foi feita no quarto dia antecedido à sua morte, quando, no papel do Sacerdote de Édipo Rei, ele mencionou uma espécie de concisão profética sobre o contexto atual:

“Tu bem vês que Tebas se debate numa crise de calamidades, e que nem sequer pode erguer a cabeça do abismo de sangue em que submergiu. Ela perece dos germes fecundos da terra, nos rebanhos que definham nos pastos, nos insucessos das mulheres cujos filhos não sobrevivem ao parto. Brandindo o seu archote, o deus maléfico da peste devasta a cidade e dizima a praça de Cadmo, e o sombrio Admo se enche com os nossos gemidos e gritos de dor (…) De que vale uma cidade? De que vale um navio, se no seu interior não existe uma só criatura humana?”

O legado Pazzini que foi deixado, não apenas no Brasil, mas, sim, no mundo, versa sobre as lembranças dos trabalhos cênicos realizados no período de 2001 e 2020; os prêmios, as menções e homenagens que ele recebeu ao longo de sua carreira tanto como docente, quanto ator; as publicações de livros sobre o seu trabalho; e os estudos acadêmicos sobre suas metodologias de trabalho.

“Esse legado o credencia ao honroso título de Doutor Honoris Causa, na incumbência de distinguir o Mestre Luiz Pazzini como um profissional de altos méritos e como personalidade eminente, uma vez que já foram destacadas aqui as relevantes atividades prestadas ao desenvolvimento da cultura, no âmbito das artes cênicas; e de suas contribuições ao ensino, à pesquisa e extensão, que são de alta valia à coletividade e à Instituição UFMA”, concluiu Arão Paranaguá.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *