Paciente do HU-UFMA vê por meio de videochamada familiares que não tinha contato há cinco anos

Dia 28 de agosto de 2020. Talvez mais um dia para a maioria das pessoas, mas não para a equipe multiprofissional da Unidade de Clínica Médica do Hospital Universitário da UFMA (HU-UFMA) e para a Ana Paula Gama Barbosa, 46, pessoa em situação de rua que estava internada na Instituição. Essa data ficará marcada de uma forma bem especial. Após cerca de cinco anos longe de sua família que mora em Belém, foi proporcionado um lindo e emocionante encontro por videochamada, entre a Ana Paula, sua mãe e demais parentes. Como tudo isso foi possível? Com o empenho de uma equipe que não viu apenas o contexto clínico, mas enxergou o ser humano por completo, com suas histórias, suas especificidades.

Com o coração acelerado, com a ansiedade de quem conta os minutos para ver alguém que admira, a paciente que conquistou a todos da equipe com seu jeito doce, sob os olhos atentos dos profissionais envolvidos, vibrou de alegria quando finalmente o tablet lhe transmitiu a imagem em tempo real de sua querida mãe, Arlete Gama Barbosa. A alegria do outro lado da tela também contagiou a todos. Foi um reencontro carregado de boas notícias, de sorrisos largos e de lágrimas de emoção. Como o destino é cheio de surpresas, a Paula soube que naquele mesmo dia, seu sexto neto estava dando os primeiros sinais de que queria chegar ao mundo.

Ana Paula é natural de Cachoeira do Arari, no Pará, conseguia seu dinheiro vendendo bombom no Terminal da Praia Grande e por ali passava boa parte de seu tempo desde que chegou a São Luís. Iniciou recentemente um atendimento no ambulatório de Ginecologia do HU-UFMA, mas foi transferida para o Serviço de Endocrinologia para tratar a diabetes que estava descompensada. Diante do seu quadro de saúde precisou ser internada no dia 05 de agosto para fazer o acompanhamento adequado.

Com a aproximação do dia em que ela teria condições de alta, uma preocupação tomou conta da equipe multiprofissional, sobretudo a do Serviço Social e da Psicologia.  A assistente social Leila Moraes Nogueira Azevedo explica o que chamou a atenção deles “Diante da fragilidade e vulnerabilidade social muito forte, conversamos com a equipe médica e não poderia ser dada a alta nas condições que ela apresentava. Pois ela era uma pessoa em situação de rua, não tinha vínculos familiares no Maranhão e não sabia o paradeiro dos familiares. A nossa preocupação era como ela iria fazer para manter a sua saúde, manter uma boa alimentação, tomar os medicamentos corretamente, voltando para o mesmo ambiente em que ela vivia antes. Isso nos trouxe uma inquietação.”

Diante desse contexto, foi acionada a Rede Socioassistencial, entrando em cena a Secretaria Municipal de Assistência Social, que é quem gerencia os abrigos institucionais, local de acolhimento para as pessoas nessas condições. Com isso, foi possível ir além da questão de possibilitar um abrigo que pudesse recebê-la na situação em que ela se encontrava. Eles recuperaram o histórico familiar e fizeram o contato com a família. Com isso, grandes descobertas e novas possibilidades despontavam, pois, ir para um abrigo já não seria mais necessário, uma vez que sua família mostrou total interesse em recebê-la de volta.

A residente de Serviço Social, Clara Juliana dos Santos Reis, diante da história da vendedora de bombom, fez o contato com a Secretaria vislumbrando um futuro melhor a essa mulher “Se nós tivéssemos ficado só aqui no nosso mundinho, talvez não conseguiríamos ir tão longe. A importância do funcionamento eficaz dessa rede é fundamental.  Ela poderia ter sido mais uma pessoa em situação de rua a procurar o serviço de saúde, que teria sua enfermidade resolvida e pronto. Mas houve uma preocupação com o pós-alta. Essa foi a grande motivação em termos feito esse trabalho de formiguinha, com esse olhar mais humanizado, com um olhar não focado apenas na doença, mas no todo, como uma pessoa de direitos que ela tem”, enfatiza.

Nesse contexto, outra importante personagem nessa história se mostrou fundamental também. É a Dona Cristina, como carinhosamente Ana Paula a identifica. Ela tem sido uma grande amiga, que se colocou à disposição para receber a Paula em sua casa até que tudo se resolva para seu retorno a Belém. Diante do interesse, ela se reuniu com a equipe para ser orientada quanto aos cuidados que a Paula precisaria receber durante esses dias.  Ela tem uma lanchonete no terminal da Praia Grande e lá a afinidade foi construída.

O residente de Psicologia, Marcos Abraão Borges Santos, destaca como foi importante ter o olhar individualizado para a história dela “Sempre estivemos preocupados com o que ela sentia, com sua história, ouvindo sua opinião, focando no protagonismo e autonomia do sujeito, pois esse foi um caso que convidou todo mundo a trabalhar junto. De fato, nos toca, nos emociona, mas nossa função foi só pavimentar o caminho para que ela trilhe novas experiências”.

Por isso, é fundamental o Plano Terapêutico Singular- PPS, como afirma a assistente social Leila. “Precisamos ter a compreensão de que o usuário que está aqui hospitalizado, apresenta um problema clínico, mas também traz consigo suas vivências, tanto suas cargas positivas como negativas.  Cabe a nós dar o suporte enquanto equipe multiprofissional, cada um dentro da sua especificidade de atuação, para conseguirmos discutir e tomar as melhores decisões”.

E quando questionada se ficou feliz, a Ana Paula nem pensou duas vezes.  “Estou muito feliz. Estava com muita saudade de todos. É uma alegria ver que estão todos bem. Agradeço a todos por esse presente, que foi rever minha família”, pontuou.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *