Desconstruindo a farsa da economia dos R$60 milhões de Flávio Dino

Tenho visto o governo do estado emitir seguidamente notas falando a respeito de uma economia de 60 milhões de reais em relação ao ano de 2014, que foi , graças a Deus, o último ano da Roseana no governo… era hora mesmo de reoxigenar a administração pública local. A própria “Branca” estava cansada da política, tanto que nem se animou a sair senadora, pois digam o que disserem, ela ganharia o senado sem muita dificuldade.

Membros do governo, inclusive o próprio Flávio, alegam terem reduzido despesas com diárias, combustível, carros oficiais, etc. Ótimo! Maravilhoso, dou total apoio e digo: que assim seja sempre, MAS… tal comparação é relativamente inválida parar ser feita.

Explico: primeiro, a comparação de um ano não-eleitoral (2015) com um ano de eleição(2014) não é coerente, já que a máquina governamental termina aumentando muito esses gastos, supostamente economizados com uma ” melhor gestão”, em todo ano de sufrágio.

Diárias, notas de locadoras de veículos e aeronaves são mais empenhadas e liquidadas como parte da ajuda aos correligionários de campanha. O ideal seria comparar os gastos de 2015 com os do ano de 2013 e fazer uma correção com base na inflação ou então, calcular o percentual relativo dessas despesas de custeio em relação ao volume orçamentário; aí sim teríamos uma melhor comparação e uma radiografia detalhada de eventual eficiência da nova gestão. Outro desejo é que em 2018 esse sistema de ajudas aos candidatos da máquina não sejam repetidos. Que a mudança seja mesmo pra valer, até em ano de eleição, ok?

Sessenta milhões pra mim, pessoa física, são uma fortuna. Porém, pro orçamento do estado, é uma economia pequena, da ordem de 0,3% do orçamento. É como se a cada 1000 reais que o governo fosse gastar, economizasse 30 centavos. Deu pra entender a microdimensão da coisa?

Pra deixar claro, cristalino, transparente, vejamos: sessenta milhões de reais aqui no Maranhão custeiam um hospital de 150 leitos durante um ano ou constróem 120 km de estradas novas ou recapeiam uns 500km de asfalto. A escolha é do gestor, mas isso nem sempre acontece. Não é porque você deixa de gastar 60 milhões com lagosta, uísque importado, flores, jatinho e diárias que o dinheiro sobra pra investir onde se quer, como nesses itens acima que terminei citando. No caso, a maior parte do gasto do governo é com folha de pagamento. Funcionários demais, comissionados principalmente. Só no Maranhão são 4900 cargos de livre indicação, aqueles que o pessoal chama de QI.

Quem reclama demais, vive chorando que o governo federal tem 22 mil cargos de confiança; pra começo de conversa, só o estado de São Paulo tem 14 mil. Pra efeitos de avaliação de proporcionalidade, o Brasil tem 204 milhões de habitantes, São Paulo tem 45 milhões e o Maranhão 7 milhões.

Fazendo uma regrinha de 3 simples, você vai ver que o Maranhão tem um comissionado pra cada 1428 habitantes, SP tem um comissionado pra cada 3214 habitantes e o governo federal tem um comissionado pra cada 9090 habitantes. Onde tem comissionados demais? Aqui no MA, certamente estão sobrando e onerando demais a folha de serviços. O detalhe é que grande parte desses cargos de confiança servem apenas pra fazer política, o retorno social em serviços públicos é muito pequeno. A lógica infelizmente de distribuir empregos para aliados e figuras de relevância social não mudou. Sempre há os penduricalhos dos juízes, desembargadores, lideranças locais e por aí vai, onerando continua e progressivamente a folha de pagamento e travando a possibilidade do Estado investir maciçamente em atividades que realmente gerem emprego e renda.

Nunca é demais lembrar que o dinheiro do empréstimo do BNDES que a Roseana fez está quase no fim – resta R$1 bilhão dos R$3,8 bilhões emprestados em 2012 – e a verdade é que pouco se avançou em obras desde que esse recurso foi liberado pelo referido banco público.

Vai embora o dinheiro, ficam as prestações, aumenta o endividamento da Fazenda pública. É isso aí…

Se o governo de Flávio não tiver a coragem de fazer mais e melhor, de cortar um monte desses cargos comissionados e economizar nos penduricalhos pra fazer política, não adianta daqui a uns dias o governador e equipe cortarem 10% do salário, como fizeram a Dilma e o Edivaldo.

Aceitem, gestores, esses atos simbólicos não equilibram a folha de pagamento. A se manter esta inércia na gestão de pessoas, com as correções salariais e perda de repasses federais, a dívida do Maranhão corre o risco de repetir daqui a 5-8 anos a tragédia financeira do Rio Grande do Sul. Esse ano, aqui no Maranhão, talvez essa microeconomia mal consiga ajudar a tapar o buraco do pagamento do décimo-terceiro.

Até quando acham que sobretaxar meu guaraná Jesus vai resolver?

Tenho esperança ainda que o governo encontre o melhor caminho, com coragem pra fazer o que for impopular, porém necessário. Vejo que Flávio tem desagradado muitos aliados e puxa-sacos, o que é bom, conserva o bom-senso em grande parte das vezes. Infelizmente, nem sempre “bom” é suficiente. O corte na carne é difícil, mas tem que ser feito.

Boa sorte, Maranhão.

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