A opinião de Natalino Salgado: Dom Delgado, um homem visionário (I)

Este artigo é o primeiro de uma pequena série de escritos que apresentarei sobre a vida e a obra de um dos homens mais importantes para a história da Universidade Federal do Maranhão. Trata-se de José de Medeiros Delgado, que foi arcebispo deste Estado durante o período compreendido entre 1950 e 1960. Era um paraibano apaixonado pelo conhecimento e pelo sacerdócio, pois construiu, em pouco mais de 10 anos nas terras maranhenses, de onde ele partiu para Fortaleza em 1963, um sólido legado que ainda é desfrutado pelas gerações atuais.

Antes de narrar as suas realizações e a sua profecia acerca da Cidade Universitária – que de fato veio a se cumprir -, é necessário descrever alguns detalhes de sua história pessoal. Dom Delgado nasceu em 28 de julho de 1905 na Fazenda Timbaúba, município de Pombal, onde hoje é a cidade de Condado, no interior da Paraíba, mas foi em Serra Negra, no Rio Grande do Norte, que fez seus primeiros estudos.

Em apurado trabalho para a escrita de dissertação de mestrado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a historiadora Paula Sônia de Brito debruçou-se sobre alguns aspectos curiosos relacionados à trajetória de vida de Dom José de Medeiros Delgado, que passo a compartilhar neste artigo. Conta a mestra que ele foi alfabetizado em casa, sob instrução de uma tia, e desde muito cedo teve contato com leituras religiosas. Ainda menino, tomou uma decisão: haveria de ser padre.

Todavia, antes da realização do sonho, foi preciso vivenciar uma dura realidade. Àquela época, era necessário investir num elaborado enxoval para que o aspirante a sacerdote pudesse ingressar no seminário. De família humilde, o jovem Delgado trabalhou seis meses com o propósito de conseguir levantar o dinheiro necessário para financiar o sonho. Segundo a pesquisadora Paula Sônia de Brito, que ouviu o relato da sobrinha dele, Iracema Persivo, o trabalho consistia em cortar e vender lenha com auxílio de um burro. Tratava-se, conforme o depoimento, de uma forma encontrada pelo pai de Dom Delgado, Manoel Porfírio, de testar a vocação do filho. A lida fortaleceu o chamado. Com abnegação, o então menino aspirante ao ministério sacerdotal realizou a tarefa que iniciaria sua trajetória rumo à ordenação.

No dia 04 de março de 1918, com apenas 13 anos, ele entrou para o Seminário Arquiepiscopal de Nossa Senhora da Conceição da Paraíba do Norte, em João Pessoa, com o objetivo de estudar o que hoje corresponde ao Ensino Fundamental I. Em 1919, dividiu seus estudos no curso preparatório do Colégio Pio X e no Seminário Menor, tendo acesso tanto ao ensino secular quanto aos estudos religiosos. Em 1923, ingressou no curso de Filosofia do chamado Seminário Maior. Em 1925, com 20 anos, seguiu para Roma, capital da Itália, onde fez os primeiros anos de teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, permanecendo nesse país até 1927.

Dom Delgado teve que voltar da capital italiana para o Brasil devido a problemas de saúde, terminando os estudos de teologia em sua terra natal, no Seminário da Paraíba, para ser então ordenado padre pelo bispo Dom Adaucto Aurélio de Miranda Henriques, um de seus mentores espirituais, em 02 de Julho de 1929, quando já estava com 24 anos. Era a época do pontificado de Pio XI.

Como sacerdote, a sua primeira experiência ligada às causas da educação ocorreu na cidade de Bananeiras, interior da Paraíba, onde atuou como Capelão do Colégio das Irmãs Dorotéias. De lá partiu, em 1931, para Campina Grande, também no interior paraibano, ficando dez anos nessa cidade na função de vigário da igreja de Nossa Senhora da Conceição. A semente já estava plantada: preocupado com a educação de crianças e jovens, fundou diversos estabelecimentos de ensino e descentralizou as atividades da igreja católica, aproximando-se de comunidades na zona rural, estimulando leigos a se engajarem nas causas a favor da educação, coordenando práticas comunitárias e de ação social.

Seu trabalho influenciou a cidade e chamou a atenção do sumo Pontífice Pio XII, que o designou, em 15 de março de 1941, para ser o bispo de Caicó, no Rio Grande do Norte. Foi o primeiro bispo da cidade e contava à época com apenas 36 anos de idade. A cidade o recebeu com festa, pois sua fama já havia percorrido toda aquela região. Para figurar no seu brasão eclesial, escolheu a frase “Ita, Pater” (Sim, pai). Nessa cidade, coube a esse jovem líder espiritual fundar o Ginásio Diocesano Seridoense (1942), a Casa do Pobre (1943), a Escola Doméstica Popular Darci Vargas (1943) para mulheres, a Escola Pré-vocacional de Caicó (1944) para crianças e o Seminário Santo Cura D’Ars (1946). Em Caicó, ele ficou até janeiro de 1952, quando foi transferido para o Maranhão, assumindo posteriormente a Arquidiocese de São Luís em 03 de fevereiro desse mesmo ano. Assim, passou a ser o quarto arcebispo do nosso Estado. Contudo, esse é um assunto para o próximo artigo.

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