Saiba o que fazer para seu dinheiro render mais em 2016

Em época de recessão, com os juros e a inflação nas alturas consumindo a renda, é preciso redobrar os cuidados com as contas domésticas. As famílias não podem fazer como o governo, que tem a máquina do Tesouro para imprimir títulos públicos e encobrir rombos na contabilidade, ou aumentar impostos para elevar a receita. Especialistas ouvidos pelo Correio aconselham os consumidores a evitar dívidas que não caibam no orçamento — uma advertência que vale para qualquer tempo, mas é ainda mais pertinente em períodos de turbulência como o que o país atravessa. É importante sempre manter uma reserva, ou seja, fazer superavit, para não deixar o nome sujo na praça.

Dívidas com juros elevados, que andam acima de 300% ao ano, podem ficar impagáveis em pouco tempo, alerta Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper. “Neste fim de ano, é importante aproveitar o 13º salário para quitar as compromissos com taxas muito altas, como cheque especial e cartão de crédito, para reduzir o nível de endividamento”, avisa. Aos que já têm 30% da renda comprometida com bancos, ele orienta retirar os supérfluos da cesta de compras e frequentar feiras livres mais do que supermercados. “É muito mais barato, e você pode se surpreender ao ver o quanto é possível economizar”, afirma.

Para reduzir o endividamento, diz Rocha, é importante, ainda, parar, definitivamente, de parcelar compras no cartão de crédito. “Normalmente, quem paga a primeira prestação esquece as demais e, quando recebe a fatura, leva um susto”, explica. Para ele, o Banco Central precisa exigir mais transparência das operadoras porque o saldo restante nunca aparece na fatura do cliente. Outro erro comum lembrado pelo especialista é o de incorporar o limite do cheque especial à renda. “Isso é um equívoco, pois induz as pessoas a gastarem mais do que ganham”, explica.

Pedalada
Ellen Regina Steter, do Departamento de Pesquisas Econômicas do Bradesco, lembra que, pelos dados do Banco Central, a desaceleração econômica está pegando em cheio o crédito ao consumo, que, entre 2008 e 2011, cresceu de forma acelerada, com financiamentos de veículos em prazos a perder de vista. “Hoje, o consumidor não encontra mais tanta oferta de crédito”, destaca. Ela orienta o consumidor a renegociar as dívidas, trocando os juros mais altos por financiamentos mais baratos.

“Se tem dívida no cartão de crédito, busque um crédito pessoal consignado para quitar a fatura. A economia será enorme. Antes de se tornar inadimplente e ver o endividamento sair do controle, sente-se com o gerente do banco, explique a situação e peça a linha de crédito que for mais adequada ao seu bolso. Pedalar a dívida só vai piorar o problema”, diz Ellen. No entender dela, gastar mais do que se ganha pode ser um transtorno, mas, se houver planejamento e a prestação de um determinado bem couber no orçamento, não tem problema. “Estar endividado não significa que a pessoa não consiga pagar a dívida. O importante é ver quanto da renda está comprometido por financiamentos com juros altos”, explica.

Para Rocha, do Insper, mesmo quem está com as finanças em dia e tem um nível de endividamento controlado deve ter a mesma cautela mostrada hoje pelas empresas: retardar o investimento e o consumo, uma vez que a economia, segundo os especialistas, não deve se recuperar até 2017. “Aguarde para trocar o carro, fazer a viagem internacional, até ter a convicção de que sua empregabilidade é estável. Mas mantenha a viagem se preparou um orçamento para essa finalidade. Não precisa ser xiita”, aconselha Rocha, que programou a viagem de férias a Portugal com milhas do cartão de crédito e ainda fez uma poupança para os gastos com hotel, passeios e alimentação. “Agora, é hora do consumo planejado. Se fez planejamento, compre. Se não fez, planeje primeiro. Priorize o que é mais relevante. Faça as contas sempre”, orienta.

Para quem está endividado até o pescoço, já abusou dos parentes para pedir empréstimo e não tem mais a quem recorrer, só há duas saídas: buscar um segundo emprego para incrementar a renda ou cortar gastos. “O brasileiro não consegue dar pedalada, como o governo. Se fizer isso, terá o nome negativado no SPC e ainda correrá o risco de ter seus bens apreendidos”, alerta Rocha. De acordo com o especialista, o brasileiro acaba se endividando por questões culturais. Ao contrário do consumidor europeu, ele não tem paciência para comprar um bem. Não espera, e busca financiamento. “É aí que mora o perigo, e, por isso, os juros são altos, já que o consumidor acaba aceitando pagar mais para ter o bem logo, em vez de economizar e tentar comprar à vista”, explica.

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