Psol encaminha expulsão de deputado evangélico

O deputado Cabo Daciolo (RJ), que pretende trocar o termo “povo” por “Deus” na Constituição Federal, deve ser expulso do Psol no próximo fim de semana, em deliberação a ser realizada pela executiva nacional do partido. Com comportamento e ideologia considerados incompatíveis com o dogma partidário, ele já estava suspenso desde 26 de março.
Dizendo querer permanecer no partido, Daciolo já fez sua defesa junto à Comissão de Ética do Psol, que elaborou um parecer a ser submetido à cúpula partidária com encaminhamento que tende a ser pela expulsão. Foi o que disse ao Congresso em Foco nesta terça-feira (12) o presidente nacional da sigla, Luiz Araújo. “A tendência é a Comissão de Ética recomendar a expulsão”, resumiu o dirigente, acrescentando ainda não ter tido acesso ao relatório do colegiado.

Ao ser informado pela reportagem sobre a provável expulsão da sigla à qual se filiou para disputar as eleições de 2014, Daciolo demonstrou decepção. E, ato contínuo, recorreu à pregação religiosa que tanto lhe indispôs com a militância do Psol. “É mesmo, é? Só Deus mesmo, meu amigo… Só Deus no controle”, resignou-se o deputado, com ar de desalento.

Daciolo garantiu que não vai desistir de “crescer” no Psol, como já havia dito em entrevista veiculada neste site em 14 de abril. “Eu quero continuar no Psol, crescer no Psol. Vou continuar na luta para permanecer. Quero ver quais são os recursos a que tenho direito para reverter isso aí. Só falei de Deus e me expressei sobre os militares. Eles [da cúpula do Psol] sempre souberam a minha posição”, lamentou o deputado.

Bombeiro militar e evangélico, ele costuma citar o conjunto normativo do próprio Estatuto do Psol para defender sua permanência. Ele garante que o artigo 5º, dispositivo inscrito no capítulo II (“Dos objetivos”), título I (“Do partido, sede, emblema, objetivos e filiação”), ampara sua atuação parlamentar.

“O Partido Socialismo e Liberdade desenvolverá ações com o objetivo de organizar e construir, […], a clareza acerca da necessidade histórica da construção de uma sociedade socialista, com ampla democracia para os trabalhadores, que assegure a liberdade de expressão política, cultural, artística, racial, sexual e religiosa, tal como está expressado no programa partidário”, diz o artigo 5º.

“Incompatibilidade”

De Curitiba, onde participa de interrogatórios da CPI da Petrobras, o deputado Ivan Valente (Psol-SP) também disse ao Congresso em Foco que a tendência é a expulsão. Membro do Diretório Nacional do Psol, ele explicou que o problema de Daciolo é mesmo a “incompatibilidade” dogmática. O Psol defende o Estado laico e a liberdade de crença.

“Está parecendo que há uma proposta [de expulsão]. O problema dele é a questão política, de incompatibilidade. Ele mexeu com cláusulas importantes, caras ao Psol”, disse Ivan, para quem temas como a laicidade do Estado e a ação da Polícia Militar do Rio de Janeiro pesaram na provável expulsão de Daciolo. Ele citou a defesa feita por Daciolo dos policiais militares presos pelo desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza em 2013. Daciolo chegou a ir à tribuna da Câmara para dizer que os policiais estão presos “por um crime que não cometeram”.

“Isso leva a uma situação de incompatibilidade. Ele mesmo não está se sentindo confortável [na bancada da Câmara]”, analisou o parlamentar paulista. Além de Daciolo e Ivan Valente, o Psol possui mais três deputados nesta legislatura, um a mais que na anterior. Juntou-se aos reeleitos Jean Wyllys (RJ) e Chico Alencar (RJ) o paraense Edmilson Rodrigues.

Contradição

Na avaliação de Daciolo, que é visto como fundamentalista entre os militantes, o Psol age de maneira contraditória, pois sabia de suas ligações religiosas e com os militares quando aceitou sua filiação e o lançou candidato. Em 7 de abril, o deputado subiu à tribuna da Câmara e, exaltado, questionou não só a legenda como colegas como Jean Wyllys e o deputado estadual fluminense Marcelo Freixo, uma das estrelas do partido.
Congresso em Foco

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