Já estamos preparados para depressão pós-Copa?

Ainda nem entramos na segunda semana da Copa do Mundo de futebol, mas ontem um amigo me fez refletir ao escrever: “já fico imaginando o quão triste será quando acabar a Copa do Mundo”. De fato é capaz que alguns possam entrar em uma depressão, principalmente aqueles que são apaixonados por futebol. Problemas de infraestrutura a parte, a raiva com o governo do nosso país, a nossa seleção que vem se apresentando de forma pífia, devemos admitir, o futebol que está sendo apresentado pelas demais seleções está sendo digno de um torneio mundial, o qual é esperado ansiosamente durante quatro anos.

É óbvio que existem aqueles jogos que quase te fazem dormir, mas isso talvez fique resumido a uma partida entre Nigéria e Irã (0x0), afinal até um 0x0 também entre Japão e Grécia, está sendo emocionante. Mas muito mais que isso, a overdose de partidas oferecidas diariamente nos horários das 13h, 16h e 19h, tá nos oferecendo uma oportunidade tão grande, que é difícil comparar algo a semelhante, talvez a só outra Copa do Mundo. Apesar de que também existem outras inúmeras situações muito prazerosas!

Mas falando em futebol, quem imaginaria uma Copa do Mundo com a Costa Rica eliminando dois campeões mundiais? Quem sequer pensou que Austrália poderia ameaçar a Holanda, após aquele chocolate sobre a Espanha? Até a França, desacreditada e classificada apenas na repescagem da eliminatórias, está surpreendendo no Brasil.

Antes que digam, que já estou caindo no discurso do pão e circo, que o futebol é ópio do povo e blá blá, lembro que não esqueço dos problemas que cercaram e cercam a competição no nosso país. Mas ao mesmo tempo devo admitir, futebolisticamente falando, essa é a melhor Copa do Mundo que assistir e peço paciência aos chatos de plantão para continuar enaltecendo isso.

Relativamente ainda sou considerado novo (25 anos), esta é a sexta Copa que acompanho e/ou lembro, afinal a 1990, ainda não tinha minima compreensão do que era uma bola. 1994 só lembro da final com a minha família na casa da minha vó e daquela festa, após o fatídico pênalti do Baggio para fora. Mas me recordo que também foi nessa Copa dos EUA, que eu comecei ter as primeiras noções de futebol, ainda me lembro quando perguntei de forma ingênua ao meu pai: “o objetivo é chutar a bola para além da linha final de demarcação do campo?”. Obviamente ele me explicou e ainda que de forma simplória eu comecei a entender uma partida de futebol.

Já em 1998, com um conhecimento a mais e inclusive já como torcedor (o Fluminense me escolheu em 1995), acompanhei e tenho uma memória um pouco mais viva daquela Copa na França. Lembro do primeiro jogo contra Escócia (2×0), a segunda rodada contra o Marrocos (3×0), a derrota para Noruega (0x2), a goleada sobre o Chile nas oitavas (4×0), a partida dramática que foi contra a Dinamarca (3×2), o jogaço que foi contra Holanda (2×2) e finalmente a decepção da derrota por 3×0 para França e mais uma vez eu estava na casa da minha vó, só que desta vez não veio a vitória, mas sim uma sonora derrota, que me fez desistir de acompanhar o jogo antes do término do primeiro tempo. Acabei indo jogar bola na rua com os amigos que tinha no interior.

2002 já foi um pouco diferente, pra ser sincero não lembro de todos os placares da seleção brasileira, mas foi a primeira Copa que me despertou interesse em acompanhar outros jogos. Não era fácil, afinal o fuso horário da Coréia do Sul e do Japão, dificultava muito, afinal tinham as aulas no colégio durante a manhã. Mas mesmo assim, algumas partidas das 6h e 8h da manhã ainda acompanhava, seja na saída de casa para a escola ou até mesmo “matando a aula” na própria escola, quando descobrimos um lugar dentro da própria escola onde era possível acompanhar o jogo. Diferente de 98, saímos vitoriosos mais uma vez (era o penta) ao chegar na final. Vencemos a Alemanha e dessa vez não estava na casa da minha vó, mas sim na minha com a família mais uma vez. Lembro que o jogo terminou cedo, ainda era umas 10h e foi festa para tudo quanto foi lado. Só na minha residência que quase houve uma tragédia, eu fui mexer com álcool e fogo, uma mistura fatal, por pouco não vi minha vida ser encerrada ali, mas talvez seria um pouco injusto findar, antes de ver um mundial como esse.

2006 e 2010 são fáceis de resumir, assim como a decepção brasileira nas duas oportunidades. Em ambas situações nas quartas contra França e Holanda, respectivamente. Mas vale destacar que foram as primeiras que passei de acompanhar longe do ambiente familiar, afinal já na adolescência queria estar com meus amigos, assisti em bares etc. Mas mesmo com horário mais fácil e entendimento bem superior sobre o que é futebol, ainda não acompanhei de forma tão ostensiva, quanto a de 2014.

Confesso que não assisti todos os jogos, mas pelo acompanhar parte de todos, eu o fiz. Impossível esquecer do Holanda 5 x 1 Espanha, Alemanha 4 x 0 Portugal, Itália 2 x 1 Inglaterra, Argentina 2 x 1 Bósnia, Austrália 2 x 3 Holanda, Chile 2 x 0 Espanha, para citar apenas alguns e olha que ainda estamos na segunda rodada da competição.

Mas já como dizia João do Vale, “o problema não é bem eu”, penso naqueles aficionados pelo futebol, pelo prazer de estar acompanhado os jogos e a distração que está sendo proporcionada, principalmente naquelas cidades-sede. A depressão vai bater!

Afinal, convenhamos, logo após a Copa vem um dos períodos mais chatos e hipócritas para a população brasileira: campanha eleitoral para presidente, governador, senador, deputado federal e estadual.

Sair de um espetáculo como que está sendo a Copa do Mundo e entrar em um show de horrores que promete ser a eleição, vai ser duro e nos trará novamente a decepção. 

Porém o fundamental é não pensar nisso agora, afinal não se morre por antecipação. Aproveitar o que está sendo oferecido é uma grande oportunidade, talvez única, afinal daqui 4 e 8 anos, a Rússia e o Catar, respectivamente não ofereçam algo tão espetacular como o que está ocorrendo no Brasil.

1 thought on “Já estamos preparados para depressão pós-Copa?

  1. Parabéns o artigo está ótimo, concordo com cada palavra, essa Copa vai fazer falta mesmo a alegria que estamos sentindo e a festa que está acontecendo provavelmente não veremos mais nada igual nessa vida.

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