Retrato da cidade

Há tantas coisas belas na cidade
e ninguém percebe.
Há tanta gente fazendo o bem
e ninguém registra
O que pula para as manchetes
é apenas a carniça
de uma sociedade apodrecida.

Da crônica policial
à coluna social,
expõem-se
as partes podres desta cidade.
Uma deformada,
a outra perfumada.
Ambas bem sucedidas
na arte de roubar,
furtar
matar
mentir.

O lixo do luxo
e o luxo do lixo
se expõem
por todas as partes:
na esquina
na boutique
nas prisões
nos botecos
nas filas de hospitais
nos desfiles de moda
nas favelas
nas mansões

A podridão se transporta
por todos os meios
Ela vai no lotação
na carroça
no avião
no táxi
no trem
até no caminhão

O escárnio da gente pobre
é mesmo dessa pobre gente
A impureza se expõe
nas roupas em farrapos
e nos decotes bem cortados
E tudo gente indecente.

Aqui onde tudo se faz
e tudo se consente
o ser marginal
e quem guarda a decência
por não querer
por caminhos tortos trilhar
e na passarela
não poder e não saber pisar
Uma pura incoerência

Deus, que do alto assiste
a tudo sem se manifestar
há de ter piedade
para não permitir a derrota do bem
na luta contra o mal
aqui nesta cidade

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